As tropas russas colocaram “objetos semelhantes a explosivos” nos telhados da usina nuclear de Zaporizhzhia (ZNPP), disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na terça-feira (4), o que imediatamente gerou preocupação em todo o mundo.
“Talvez para simular um ataque à planta. Talvez eles tenham algum outro cenário”, especulou Zelensky.
Mas em um ponto ele foi inequívoco: “De qualquer forma, o mundo vê, não pode deixar de ver, que a única fonte de perigo para a usina nuclear de Zaporizhzhia é a Rússia e mais ninguém”.
O presidente russo, Vladimir Putin, há muito flerta com o espectro nuclear desde que montou sua invasão à Ucrânia. Zelensky agora levantou a perspectiva de que ele pode causar um incidente nuclear não disparando ogivas, mas transformando o próprio ZNPP em uma arma.
Mas ainda há especulações sobre o que aconteceria se os explosivos, que a Ucrânia afirma ter encontrado, fossem detonados. Poderia Zaporizhzhia se tornar outra Chernobyl? E que bem, se houver, isso traria para a Rússia em sua guerra contra a Ucrânia?
Situação atual
Em junho, Zelensky disse que a inteligência ucraniana “recebeu informações de que a Rússia está considerando um cenário de ataque terrorista na usina nuclear de Zaporizhzhia (ZNPP)” e que o suposto ataque envolveria “vazamento de radiação”.
O chefe da inteligência militar da Ucrânia, Kyrylo Budanov, disse à TV estatal que os russos haviam minado a usina de Zaporizhzhia. “A parte mais horrível é que um refrigerador foi minado. Se eles desativá-lo explodindo… há uma grande chance de que haja problemas significativos.” O Kremlin negou as acusações.
Zelensky intensificou significativamente essa retórica em seu discurso na noite de terça-feira. “O mundo inteiro deve agora perceber que a segurança comum depende inteiramente da atenção global às ações dos ocupantes da usina”, disse ele.
Enquanto a contraofensiva da Ucrânia tenta recuperar o território capturado pela Rússia, inclusive na região de Zaporizhzhia, analistas disseram que a Rússia pode estar montando uma operação de bandeira falsa – uma ação militar projetada para parecer que foi perpetrada pelo oponente. Ou seja, a Rússia pode alegar que qualquer explosão na usina foi resultado de um bombardeio ucraniano imprudente, e não de seus próprios explosivos.
Durante a guerra, a Rússia alertou que o bombardeio ucraniano ao redor da usina poderia levar a um incidente radioativo.
“É uma sinalização retórica destinada a acusar a Ucrânia de irresponsabilidade nuclear e também a desencorajar a Ucrânia de realizar operações de contraofensiva no oblast ocupado de Zaporizhzhia”, disse Karolina Hird, analista russa do Instituto para o Estudo da Guerra.
Usina sob controle russo
A usina nuclear de Zaporizhzhia, com seis reatores, é a maior usina nuclear da Europa. Sob controle russo desde o início da guerra, a fábrica ainda é operada principalmente por trabalhadores ucranianos. Tanto a Ucrânia quanto a Rússia frequentemente se acusam de bombardear a usina e arriscar um grande incidente nuclear.
Em vermelho, as regiões ocupadas por forças russas.
Mapa do Instituto para o Estudo da Guerra com o Projeto de Ameaças Críticas da AEI, Agência Internacional de Energia Atômica, Google Maps. / Gráfico: Lou Robinson e Henrik Pettersson/CNN
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse, na quarta-feira (5), que a situação na usina é “bastante tensa”, mas tentou desviar as críticas, alegando que o potencial de “sabotagem pelo regime de Kiev” é “alto” e pode ter “consequências catastróficas”.
“Portanto, é claro, todas as medidas estão sendo tomadas para combater essa ameaça”, disse Peskov.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão de vigilância nuclear da organização das Nações Unidas (ONU), disse que não havia indicações visíveis de minas ou explosivos no ZNPP, mas solicitou acesso adicional ao local para confirmação.
“O acesso aos telhados das unidades de reatores 3 e 4 é essencial, assim como o acesso às salas das turbinas e algumas partes do sistema de resfriamento da usina”, disse o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, em comunicado.
Quem controla a usina
A ZNPP, a maior da Europa, fica às margens do Rio Dnipro, próximo à cidade de Enerhodar. Ela está sob controle total da Rússia desde março do ano passado, mas é operado principalmente por funcionários ucranianos, que foram inicialmente forçados a trabalhar sob a mira de uma arma por tropas invasoras russas, de acordo com Petro Kotin, chefe da operadora de energia nuclear Energoatom da Ucrânia.
Quando a guerra começou, em 24 de fevereiro de 2022, uma das seis unidades de reatores da usina foi fechada para manutenção. Depois que as forças russas assumiram o controle da fábrica, os trabalhadores ucranianos fecharam as unidades restantes.
Mas a luta continuou em torno da usina, para o grave alarme da AIEA.
Grossi, alegando que “todos os princípios de segurança nuclear” foram “violados” na usina, conseguiu garantir uma visita de sua equipe ao local em agosto, enquanto ele permanecia sob controle russo.
“O que Grossi está fazendo é completamente sem precedentes na história da AIEA”, disse Alberque. “A coisa toda dizia: a Rússia basicamente vai ter que me matar, para que eu não torne esta usina nuclear mais segura. Foi surpreendente.”
A missão da equipe da AIEA, disse Alberque, era “estabelecer um precedente aqui, de que estamos dispostos a nos envolver e tentar tirar essa peça de xadrez do tabuleiro”.
Fonte: CNN
Comente este post