Clima: Onda de calor extremo obriga governo a usar diferentes recursos para suprir a alta no consumo de energia

Até os sinais de trânsito pareciam falar do calor extremo que testou os termômetros, os uniformes, a resiliência dos profissionais da economia dos serviços. Nos centros financeiros de São Paulo, as calçadas não encheram como de costume na hora do almoço. Gente vestindo o figurino de executivo só passava entre um ar condicionado e outro.

A fuga para os ambientes climatizados na maior cidade do país reflete uma mudança de comportamento recente no Brasil.

“Tem uma demanda enorme por ar condicionado, cada vez mais. E isso é o que faz com que o Brasil sempre cresça mais o consumo de energia em relação ao PIB. Antes o pico era chuveiro elétrico, quando todo mundo voltava para casa e utilizava o chuveiro elétrico e, hoje em dia, esse pico agora virou ar condicionado”, afirma Bruno Pascon, diretor executivo do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Dados do Operador Nacional do Sistema, mostram o primeiro recorde logo na segunda-feira (13), superado na terça (14), com um pequeno recuo no feriado, e depois, dois dias seguidos com geração acima de 101 megawatts.

“Nós estamos muito bem abastecidos no ponto de vista de energia hidráulica. Nossos reservatórios estão cheios – muito cheios, diga-se de passagem, como há muitos anos a gente não via – porém, esse consumo adicional de energia proveniente dessa onda de calor fez com que fosse necessário acionar termelétricas para que fosse possível atender esse pico de demanda”, explica Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do ONS, Operador Nacional do Sistema Elétrico.

Em cada um desses dias de calor, foram registrados dois picos de consumo. O primeiro no horário comercial, por volta das 14h, quando os aparelhos de ar condicionado dos escritórios, shoppings centers, prédios comerciais, estão em atividade máxima. E o segundo, no comecinho da noite. Quando o sol se põe, vai a zero a produção da segunda maior fonte de energia do país, a solar – justamente quando a taxa de consumo das casas sobe com a chegada das famílias.

Os especialistas dizem que temos um dos melhores sistemas integrados de energia do mundo, mas ele não dá conta dessa carga. “Eu não consigo usar água para atender esse pico de demanda. Então, toda vez que tiver uma onda de calor, como a gente espera também para o verão agora, a gente sempre vai ter que contar com a termelétrica para garantir que não vai faltar energia”, diz Bruno Pascon.

Tudo vai depender do nível de chuva no verão, especialmente no Sudeste. Calor sabe-se que vai ter.