Os militares dos EUA construirão um porto temporário na costa mediterrânea de Gaza para receber ajuda humanitária por mar, disse o presidente Joe Biden em seu discurso sobre o Estado da União na quinta-feira (7).
O planejamento da operação, inicialmente baseada na ilha de Chipre, não prevê o envio de militares dos EUA para Gaza.
O anúncio de Biden ocorreu num momento em que ele procura acalmar a raiva entre muitos no seu Partido Democrata sobre o seu apoio a Israel na sua ofensiva em Gaza desde 7 de outubro, dado o elevado número de vítimas civis no enclave palestino.
Altos funcionários do governo que informaram os jornalistas sobre o plano antes do discurso também disseram que o Hamas estava atrasando um novo acordo com Israel sobre um cessar-fogo de seis semanas e a libertação de reféns porque os islâmicos que governam Gaza não concordaram em libertar doentes e idosos cativos.
O acordo “está sobre a mesa agora e já está há mais de uma semana”, disse um funcionário, referindo-se às negociações paralisadas no Egito, acrescentando que o cessar-fogo temporário era necessário “para trazer alívio imediato ao povo de Gaza”.
O Hamas atribuiu o impasse à rejeição de Israel às suas exigências para pôr fim à sua ofensiva e retirar as suas forças.
A decisão de Biden de ordenar a construção do porto temporário ocorreu em meio a alertas da ONU sobre a fome generalizada entre os 2,3 milhões de palestinos do enclave, após quase cinco meses de combates entre as tropas israelenses e o Hamas.
Grandes áreas de Gaza foram destruídas e a maior parte da sua população foi deslocada pelos intensos bombardeamentos israelitas e pelos combates desencadeados pelo ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro.
Israel diz que a incursão do Hamas ceifou 1.2 mil vidas e viu os islâmicos sequestrarem 253 reféns.
No seu discurso, Biden disse que mais de 30 mil palestinos foram mortos. “A maioria dos quais não são do Hamas”, acrescentou. “Milhares e milhares são mulheres e crianças inocentes.”
Entregas marítimas para Gaza
Biden disse ao Congresso que estava orientando os militares dos EUA a liderar uma missão de emergência para estabelecer um “cais temporário” na costa de Gaza para receber navios que transportassem alimentos, água, remédios e abrigos temporários.
“Não haverá tropas dos EUA no terreno”, acrescentou.
Washington trabalhará com parceiros e aliados europeus e regionais para construir uma coligação internacional de países que contribuiria com capacidades e fundos, disseram as autoridades.
Uma autoridade israelense disse que Israel “apoia totalmente a implantação de uma doca temporária” na costa de Gaza e que a operação seria realizada “com total coordenação entre as duas partes”.
Sigrid Kaag, coordenadora humanitária e de reconstrução da ONU para Gaza, saudou a adesão de Washington à iniciativa desenvolvida por Chipre para criar um corredor marítimo para entregar mercadorias a Gaza.
“Nós saudamos isso. Ao mesmo tempo, não posso deixar de repetir: o ar e o mar não substituem a terra e ninguém diz o contrário”, disse Kaag, na quinta-feira (7), após informar o Conselho de Segurança da ONU à portas fechadas.
Embora Israel esteja a aumentar o número de camiões de ajuda autorizados a entrar em Gaza e os Estados Unidos e outros países tenham lançado suprimentos aéreos, a assistência que chega ainda é insuficiente, disse um dos responsáveis norte-americanos.
“Não estamos à espera que os israelitas” permitam a entrada de mais ajuda, acrescentou o responsável. “Este é um momento para a liderança americana.”
O porto temporário aumentaria a assistência humanitária aos palestinos e as autoridades trabalhariam com a ONU e organizações de ajuda humanitária que “compreendem a distribuição da assistência dentro de Gaza”, disse o funcionário.
A operação “levaria algumas semanas para ser planejada e executada”, disse o responsável, acrescentando que as forças norte-americanas necessárias estão na região ou começarão em breve a deslocar-se para lá.
A operação terá por base uma iniciativa cipriota que prevê a recolha de ajuda humanitária na cidade portuária de Larnaca, na ilha, a 210 milhas náuticas de Gaza, disseram as autoridades.
Isso permitiria que as autoridades israelenses examinassem os carregamentos antes de seguirem para Gaza.
Embora o porto temporário seja inicialmente administrado por militares, Washington prevê que se torne uma instalação comercial, disse o funcionário.
Fonte: Agência Reuters
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