As regulamentações de combustível para transporte marítimo introduzidas em 2020 levaram a um corte substancial na poluição por dióxido de enxofre (SO2), mas também podem ter tornado o oceano mais quente ao reduzir a cobertura de nuvens, de acordo com um estudo de modelagem publicado em artigo publicado em 2020, divulgado na quinta-feira (30).
As regras da Organização Marítima Internacional (IMO) para combater a poluição marinha forçaram os transportadores a reduzir o teor de enxofre do combustível de 3,5% para 0,5%, levando a um declínio de 80% nas emissões de SO2, de acordo com uma equipe de pesquisa liderada por Tianle Yuan, da Universidade de Maryland.
O SO2, porém, além de ser um grande poluente, também mascara o aquecimento global ao formar aerossóis que engrossam e iluminam as nuvens, refletindo os raios solares de volta ao espaço.
Os padrões de combustível da IMO podem ter sido responsáveis por 80% da absorção líquida total de calor do planeta desde 2020, com o impacto particularmente pronunciado em rotas marítimas movimentadas, estimaram os pesquisadores no artigo publicado pela revista Communications Earth & Environment.
Os cientistas climáticos identificaram a redução do SO2 como um potencial contribuinte para as temperaturas recordes dos oceanos no ano passado. Alguns também sugerem que os cortes na poluição atmosférica em todo o mundo poderiam ter acelerado o aquecimento global.
“Este efeito de resfriamento (do SO2) é bem compreendido – e episódios documentados ocorreram como consequência de várias grandes erupções vulcânicas que emitiram SO2 durante os últimos 2.000 anos”, disse Stuart Haszeldine, diretor do Instituto de Mudanças Climáticas de Edimburgo, na Universidade de Edimburgo.
Haszeldine, que não esteve envolvido no estudo, disse que embora seja difícil fazer previsões exatas sobre o impacto nas temperaturas globais, a tendência é “muito clara, extremamente preocupante e muito significativa”.
Outros cientistas disseram que a investigação pode exagerar o impacto da política de combustíveis da IMO. “A investigação sobre a razão pela qual as temperaturas recentes têm sido tão elevadas está em curso e o teor reduzido de enxofre no combustível dos navios é apenas um fator que contribui”, disse Joel Hirschi, do Centro Nacional de Oceanografia da Grã-Bretanha.
Os autores disseram que sua pesquisa mostrou que o “clareamento das nuvens marinhas” poderia se tornar uma solução potencial de geoengenharia para o aquecimento global.
Os cientistas têm procurado maneiras de refletir o calor de volta ao espaço, mas as propostas para injetar SO2 na atmosfera têm sido controversas. Outros experimentos também foram conduzidos para borrifar água do mar no ar para engrossar as nuvens.
Fonte: Agência Reuters/David Stanway
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