O correspondente Felipe Kieling, da Band News FM, descreveu, nesta sexta-feira (12), a ação tomada pelo poder público de Paris de promover uma “limpeza social” e retirar os moradores em situação de rua das áreas consideradas ‘olímpicas’.
Com a chegada das Olimpíadas, a Prefeitura de Paris está removendo imigrantes sem-teto das ruas da cidade e levando essas pessoas para outros municípios. O objetivo do governo é identificar as pessoas nas ruas em locais que estão perto de sedes olímpicas para retirá-las antes que os Jogos comecem.
Com as promessas, as pessoas em vulnerabilidade entram em ônibus e são levadas a Marselha e Lyon. Na chegada, não há nada do prometido e as pessoas retornam para a moradia em situação de rua.
O jornal ‘The New York Times’ conversou com imigrantes que presenciaram as cenas e confirmaram as ações contra moradores em situação de rua nos arredores da Vila Olímpica. Há casos, ainda, de deportação.
A prefeitura de Paris, no entanto, garante que as ações não tem ligação com os Jogos Olímpicos e que há projetos de ressocialização sendo executados em parceria com outras cidades, já que Paris estaria “sobrecarregada”. Na capital francesa, é estimado que 5 mil pessoas estejam em situação de rua.
“Ouvimos dizer que eles vinham nos levar hoje, mas não tenho certeza para onde”, disse Obsa, um refugiado político de 31 anos da Etiópia.
Ele deseja ser identificado por um pseudônimo devido a preocupações com represálias. Obsa fez a perigosa viagem até a França em 2017, viajando desde a Etiópia, passando pelo Sudão e pela Líbia, e depois através do Mediterrâneo até Itália. Ele tem agora um emprego em tempo integral em Paris, mas, mesmo depois de tantos anos na cidade, não conseguiu encontrar alojamento permanente, em grande parte devido aos custos de aluguel extremamente elevados na capital e à disponibilidade muito limitada de habitação social mais acessível.
Obsa dependia de um alojamento de emergência num hotel, mas diz que foi expulso depois que a sua esposa se juntou a ele. “Eles simplesmente recusaram. Disseram: não temos lugar para sua esposa”, lembrou.
O etíope não está sozinho nessa experiência. Antes dos Jogos Olímpicos do próximo ano, os hotéis em Paris estão cancelando seus contratos de habitação de emergência com o governo para abrir espaço para o esperado afluxo de turistas, segundo Paul Alauzy, da Medecins Du Monde, uma ONG que trabalha com migrantes moradores de rua.
Cerca de metade dos sem-teto do país estão concentrados na região de Ile-de-France, onde têm acesso a mais instituições de caridade, oportunidades de emprego e ligações pessoais. Segundo dados do Ministério da Habitação, dos pouco mais de 200 mil moradores de rua alojados todas as noites no país, 100 mil estão nessa localidade.
Simplificando, não há abrigos de emergência suficientes em Paris para acomodar todos.
Fonte: Band News FM/CNN News
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