Rádios portáteis usados pelo grupo armado Hezbollah detonaram, na quarta-feira (18), no sul do Líbano, no dia mais mortal do país desde que os conflitos na fronteira entre os militantes e Israel começaram há quase um ano, aumentando as tensões após explosões semelhantes dos pagers do grupo na véspera.
O Ministério da Saúde do Líbano disse que 20 pessoas morreram e mais de 450 ficaram feridas, na quarta-feira (18), nos subúrbios de Beirute e no Vale do Bekaa, enquanto o número de mortos nas explosões de terça-feira subiu para 12, incluindo duas crianças, com quase 3 mil feridos.
Autoridades israelenses não comentaram sobre as explosões, mas fontes de segurança disseram que a agência de espionagem israelense Mossad foi responsável. Uma autoridade do Hezbollah disse que o episódio foi a maior violação de segurança na história do grupo.
As operações, que pareciam deixar o Hezbollah em desordem , ocorreram paralelamente à guerra de 11 meses de Israel em Gaza e aumentaram os temores de uma escalada na fronteira com o Líbano e o risco de uma guerra regional generalizada.
“Estamos abrindo uma nova fase na guerra. Ela exige coragem, determinação e perseverança de nós”, disse o Ministro da Defesa israelense Yoav Gallant em comentários em uma base da força aérea.
O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, acusou Israel de levar o Oriente Médio à beira de uma guerra regional ao orquestrar uma escalada perigosa em muitas frentes.
Os EUA, que negaram qualquer envolvimento nas explosões, disseram que estavam buscando diplomacia intensiva para evitar uma escalada do conflito. Uma autoridade dos EUA, falando sob condição de anonimato, disse que Israel disse a Washington, na terça-feira (17), que faria algo no Líbano. Mas Israel não forneceu detalhes e a operação em si foi uma surpresa para Washington, disse a autoridade.
Pelo menos uma das explosões de quarta-feira no Líbano ocorreu perto de um funeral organizado pelo Hezbollah, apoiado pelo Irã, para os mortos no dia anterior, quando milhares de pagers do grupo explodiram por todo o país e feriram muitos de seus combatentes.
O Hezbollah recorreu a pagers e outros dispositivos de comunicação de baixa tecnologia em uma tentativa de escapar da vigilância israelense de telefones celulares.
A Cruz Vermelha do Líbano disse no X que respondeu com 30 equipes de ambulância a diversas explosões em diferentes áreas, incluindo o sul do Líbano e o Vale do Bekaa.
Imagens dos walkie-talkies explodidos mostraram etiquetas com o nome da empresa japonesa de comunicações de rádio e telefonia ICOM e se assemelhava ao dispositivo modelo IC-V82 da empresa.
A ICOM, listada na Bolsa de Valores de Tóquio, disse, nesta quinta-feira (19), que estava investigando notícias de que dispositivos de rádio bidirecionais com seu logotipo explodiram no Líbano e que divulgaria informações atualizadas assim que estivessem disponíveis em seu site.
A empresa, que afirma fabricar todos os seus rádios no Japão, não pôde confirmar se havia enviado o dispositivo, em parte porque o modelo havia sido descontinuado há 10 anos.
A empresa sediada em Osaka disse que seus produtos para mercados estrangeiros são vendidos exclusivamente por distribuidores autorizados e que verifica as exportações de acordo com os regulamentos de controle de comércio de segurança do Japão.
A empresa já havia alertado anteriormente sobre versões falsificadas de seus dispositivos circulando no mercado, especialmente modelos descontinuados.
Os rádios portáteis foram comprados pelo Hezbollah há cinco meses, quase na mesma época que os pagers, disse uma fonte de segurança.
Nas explosões de terça-feira, fontes disseram que espiões israelenses detonaram remotamente explosivos que eles plantaram em uma ordem do Hezbollah de 5 mil pagers antes de entrarem no país.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reunirá na sexta-feira sobre as explosões de pagers após um pedido dos estados árabes.
O embaixador de Teerã no Líbano ficou superficialmente ferido nas explosões de terça-feira, informou a agência de notícias semioficial Fars do Irã na época. Mas o New York Times disse na quarta-feira que ele perdeu um olho e o outro ficou gravemente ferido quando um pager que ele carregava explodiu, citando dois membros da Guarda Revolucionária do Irã.
O enviado do Irã à ONU disse em uma carta, na quarta-feira, que “reserva seus direitos, sob a lei internacional, de tomar as medidas consideradas necessárias para responder” ao ataque.
Fonte: Agência Reuters/Laila Bassam e Maya Gebeily
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