O ex-candidato presidencial da Venezuela Edmundo Gonzalez disse, nesta sexta-feira (20), que buscou refúgio diplomático após ser informado de que as forças de segurança do presidente Nicolás Maduro estavam vindo atrás dele.
González, que a oposição insiste ter sido o verdadeiro vencedor da eleição de julho concedida a Maduro, disse, durante uma entrevista em Madri, que ele poderia ter sido preso e possivelmente torturado se tivesse permanecido na Venezuela.
O ex-diplomata de 75 anos partiu para a Espanha depois de obter garantias de que sua família e seus bens na Venezuela estariam seguros, disse ele, acrescentando que queria ter liberdade para buscar apoio de líderes mundiais para sua candidatura à presidência.
“Um oficial de segurança que trabalhava comigo me chamou de lado para dizer que tinha recebido informações de que os órgãos de segurança estavam vindo atrás de mim e que era melhor me refugiar”, disse ele.
“Eu poderia ter me escondido, mas precisava ser livre para poder fazer o que estou fazendo, transmitindo ao mundo o que está acontecendo na Venezuela, fazendo contatos com líderes mundiais”.
Um tribunal venezuelano emitiu um mandado de prisão para González, acusando-o de conspiração e outros crimes, depois que Maduro disse que a oposição estava tentando derrubá-lo com um golpe.
O governo venezuelano não respondeu imediatamente a um pedido de reação aos comentários de Gonzalez na sexta-feira (20).
O ex-candidato presidencial disse que já havia se encontrado com importantes figuras políticas espanholas desde sua chegada, em 8 de setembro, e, tendo recebido convites para visitar a Alemanha, a Holanda e a Comissão Europeia, faria uma viagem pela Europa.
Ele disse estar confiante de que uma transferência pacífica de poder ainda seria possível na Venezuela com ele como a pessoa para liderá-la.
“Quero garantir que a vontade dos 8 milhões de venezuelanos que votaram em mim em 28 de julho seja respeitada”, disse ele, uma referência às alegações da oposição de uma vitória esmagadora com base nas contagens de votos que publicou. “Essa é uma decisão que já foi tomada e aspiro honrá-la totalmente”.
Gonzalez disse que primeiro buscou refúgio na embaixada holandesa e, depois de 32 dias, tomou a decisão de deixar a Venezuela, mudando-se para a residência do embaixador espanhol para fazer um pedido de asilo a Madri.
Ele disse que sabia que, assim que o mandado de prisão fosse emitido, ele enfrentaria uma pena de prisão, possivelmente em “uma das prisões que eles transformaram em centros de tortura na Venezuela”.
‘Coagido’ a assinar carta
Esta semana, soube-se que, enquanto estava na residência do embaixador espanhol Ramón Santos, González assinou uma carta dizendo que aceitava a vitória eleitoral de Maduro.
O governo da Venezuela publicou fotos da assinatura na presença do chefe da Assembleia Nacional, Jorge Rodriguez, da vice-presidente Delcy Rodriguez e do enviado espanhol.
Gonzalez disse que a carta foi acertada ao longo de 48 horas “muito tensas” e de longas reuniões entre ele e as autoridades venezuelanas, e que ele foi “coagido” a assinar.
O líder da oposição disse que fotos e gravações de áudio foram tiradas sem sua permissão, descartando que tenham sido feitas pelo embaixador. “Acabamos com um texto que eu assinei. Eu disse que respeitava a decisão, embora não concordasse com ela”.
Gonzalez disse que, em troca, obteve garantias por escrito de que sua filha e sua família, incluindo duas crianças, que permanecem na Venezuela, estariam seguras, junto com seu carro e apartamento.
Ele disse que não buscou garantias para a libertação de presos políticos naquele momento, mas é uma das causas que ele traz a todos os fóruns internacionais. O grupo venezuelano de direitos humanos Foro Penal estima que, desde 29 de julho, 1.692 pessoas foram presas, muitas em protestos, embora 80 adolescentes tenham sido soltos em 1º de setembro.
Gonzalez disse que a porta-estandarte da oposição remanescente, María Corina Machado, não sabia de seu plano de sair até o dia anterior à sua ida à embaixada espanhola. Ele estava confiante de que ela não teria que tomar uma decisão semelhante, mas alertou: “É uma situação que pode surgir com qualquer líder político que possa estar em risco”.
Fonte: Agência Reuters/Corina Rodriguez
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