Israel intensificou os ataques em Gaza horas após o anúncio de um cessar-fogo e de um acordo de libertação de reféns, disseram moradores e autoridades do enclave palestino, e mediadores tentaram acalmar os conflitos antes do início da trégua no domingo.
O complexo acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo militante Hamas , que controla Gaza, surgiu na quarta-feira (14) após meses de mediação do Catar, Egito e EUA e 15 meses de derramamento de sangue que devastou o território costeiro e inflamou o Oriente Médio.
O acordo descreve um cessar-fogo inicial de seis semanas com a retirada gradual das forças israelenses da Faixa de Gaza, onde dezenas de milhares foram mortos. Reféns tomados pelo Hamas seriam libertados em troca de prisioneiros palestinos mantidos por Israel.
Em uma coletiva de imprensa em Doha, o primeiro-ministro do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, disse que o cessar-fogo entraria em vigor no domingo (19). Os negociadores estão trabalhando com Israel e o Hamas em etapas para implementar o acordo, disse ele.
“Este acordo interromperá os combates em Gaza, aumentará a assistência humanitária muito necessária aos civis palestinos e reunirá os reféns com suas famílias após mais de 15 meses em cativeiro”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, em Washington.
Seu sucessor, Donald Trump , toma posse na segunda-feira e assumiu o crédito pelo avanço em Gaza.
A aceitação do acordo por Israel não será oficial até que seja aprovado pelo gabinete de segurança e pelo governo do país, com votações programadas para quinta-feira, disse uma autoridade israelense.
Esperava-se que o acordo fosse aprovado apesar da oposição de alguns linha-dura do governo de coalizão do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
Enquanto as pessoas comemoravam o pacto em Gaza e Israel, os militares israelenses intensificaram os ataques após o anúncio, disseram o serviço civil de emergência e moradores.
Pesados bombardeios israelenses, especialmente na Cidade de Gaza, mataram 32 pessoas na noite de quarta-feira, disseram médicos. Os ataques continuaram na manhã desta quinta-feira e destruíram casas em Rafah, no sul de Gaza, Nuseirat, no centro de Gaza, e no norte de Gaza, disseram moradores.
Os militares israelenses não fizeram comentários imediatos e não houve relatos de ataques do Hamas a Israel após o anúncio de cessar-fogo.
Uma autoridade palestina próxima às negociações de cessar-fogo disse que os mediadores estavam tentando persuadir ambos os lados a suspender as hostilidades antes que o cessar-fogo entrasse em vigor.
Júbilo em Gaza
Em postagens nas redes sociais, alguns moradores de Gaza pediram aos palestinos que tenham mais cautela, acreditando que Israel pode intensificar os ataques nos próximos dias para maximizar os ganhos antes do início do cessar-fogo.
No entanto, as notícias do acordo de cessar-fogo provocaram júbilo em Gaza, onde os palestinos enfrentaram severa escassez de comida, água, abrigo e combustível. Em Khan Younis, multidões lotaram as ruas em meio aos sons de buzinas enquanto comemoravam, agitavam bandeiras palestinas e dançavam.
“Estou feliz. Sim, estou chorando, mas são lágrimas de alegria”, disse Ghada, uma mãe deslocada de cinco filhos.
Em Tel Aviv, as famílias dos reféns israelenses e seus amigos também receberam bem a notícia, dizendo em um comunicado que sentiram “uma alegria e um alívio avassaladores (sobre) o acordo para trazer nossos entes queridos para casa”.
Em uma declaração nas redes sociais anunciando o cessar-fogo, o Hamas chamou o pacto de “uma conquista para o nosso povo” e “um ponto de virada”.
Se bem-sucedido, o cessar-fogo interromperá os combates que devastaram grande parte da densamente urbanizada Gaza, mataram mais de 46.000 pessoas e deslocaram a maior parte da população pré-guerra do pequeno enclave, de 2,3 milhões de pessoas, de acordo com autoridades de Gaza.
Isso, por sua vez, poderia aliviar as tensões em todo o Oriente Médio, onde a guerra alimentou conflitos na Cisjordânia ocupada por Israel, Líbano, Síria, Iêmen e Iraque, e levantou temores de uma guerra total entre os principais inimigos regionais Israel e Irã.
Com 98 reféns israelenses restantes em Gaza, a primeira fase do acordo envolve a libertação de 33 deles, incluindo todas as mulheres, crianças e homens com mais de 50 anos. Dois reféns americanos, Keith Siegel e Sagui Dekel-Chen, estavam entre os que seriam libertados na primeira fase, disse uma fonte.
Fonte: Agência Reuters/Cynthia Osterman
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