Os Estados Unidos concordaram, nesta terça-feira (11), em retomar a ajuda militar e o compartilhamento de inteligência com a Ucrânia depois que Kiev disse estar pronta para apoiar a proposta de Washington para um cessar-fogo de 30 dias com a Rússia, disseram os países em uma declaração conjunta.
Após mais de oito horas de conversas com autoridades ucranianas em Jeddah, Arábia Saudita, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse que os EUA agora levariam a oferta à Rússia, e que a bola “está na quadra” de Moscou.
“Nossa esperança é que os russos respondam ‘sim’ o mais rápido possível, para que possamos chegar à segunda fase disso, que são as negociações reais”, disse Rubio aos repórteres, referindo-se ao presidente dos EUA, Donald Trump .
O Kremlin lançou uma invasão em grande escala da Ucrânia há três anos, e a Rússia, que vem fazendo avanços, agora detém cerca de um quinto do território ucraniano, incluindo a Crimeia, que anexou em 2014.
Rubio disse que Washington queria um acordo total com a Rússia e a Ucrânia “o mais rápido possível”.
“A cada dia que passa, essa guerra continua, pessoas morrem, pessoas são bombardeadas, pessoas são feridas em ambos os lados deste conflito”, disse ele.
Não havia certeza de como Moscou responderia.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse que está aberto a discutir um acordo de paz, mas ele e seus diplomatas declararam repetidamente que são contra um cessar-fogo e buscariam um acordo que salvaguardasse a segurança da Rússia a longo prazo.
Putin disse ao seu Conselho de Segurança, em 20 de janeiro, que “não deveria haver uma trégua curta, nem algum tipo de trégua para reagrupamento de forças e rearmamento com o objetivo de posteriormente continuar o conflito, mas uma paz de longo prazo”.
Ele também descartou concessões territoriais e disse que a Ucrânia deve se retirar totalmente de quatro regiões ucranianas reivindicadas e parcialmente controladas pela Rússia.
“Quaisquer acordos — com todo o entendimento da necessidade de compromisso — nos nossos termos, não nos americanos”, disse um influente legislador russo na quarta-feira (12).
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse após as negociações entre EUA e Ucrânia na terça-feira que não descartava contatos com representantes dos EUA.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy, que estava na Arábia Saudita, mas não participou das negociações, disse que o cessar-fogo era uma “proposta positiva” que abrange a linha de frente do conflito, não apenas os combates aéreos e marítimos.
Concordância da Rússia
O líder ucraniano disse que o cessar-fogo entraria em vigor assim que a Rússia concordasse.
“Quando os acordos entrarem em vigor, durante esses 30 dias de ‘silêncio’, teremos tempo para preparar com nossos parceiros, no nível de documentos de trabalho, todos os aspectos para uma paz confiável e segurança de longo prazo”, disse Zelenskiy.
Rubio disse que o plano seria entregue aos russos por meio de vários canais. O conselheiro de segurança nacional de Trump, Mike Waltz, deve se encontrar com seu colega russo nos próximos dias e o enviado especial de Trump, Steve Witkoff, planeja visitar Moscou esta semana para se encontrar com Putin.
Na terça-feira (11), Trump disse que esperava um cessar-fogo rápido e pensou que falaria com Putin esta semana. “Espero que seja nos próximos dias”, disse ele a repórteres em um evento na Casa Branca para promover a empresa de carros Tesla de seu conselheiro próximo Elon Musk.
O acordo EUA-Ucrânia foi uma reviravolta drástica em relação à reunião acirrada na Casa Branca em 28 de fevereiro entre o novo presidente republicano dos EUA, que há muito tempo é um cético em relação à ajuda à Ucrânia, e Zelenskiy.
Na declaração conjunta desta terça-feira, os dois países disseram que concordaram em concluir o mais rápido possível um acordo abrangente para o desenvolvimento dos recursos minerais essenciais da Ucrânia, que estavam em andamento e foram jogados no limbo por aquela reunião.
Após esse encontro, os Estados Unidos interromperam o compartilhamento de inteligência e o envio de armas para a Ucrânia, ressaltando a disposição de Trump de pressionar um aliado dos EUA enquanto ele adota uma abordagem mais conciliatória com Moscou.
Trump disse, nesta terça-feira, que convidaria Zelenskiy de volta à Casa Branca.
Autoridades ucranianas disseram à noite que tanto a assistência militar dos EUA quanto o compartilhamento de inteligência foram retomados.
Parceiros europeus
Um assessor de alto escalão de Zelenskiy disse que opções para garantias de segurança para a Ucrânia foram discutidas com autoridades dos EUA. Garantias de segurança têm sido um dos principais objetivos de Kiev, e alguns países europeus expressaram disposição para explorar o envio de tropas para a Ucrânia, se necessário, como parte das garantias.
Na declaração conjunta, a Ucrânia reiterou que os parceiros europeus devem estar envolvidos no processo de paz. O secretário geral da OTAN, Mark Rutte, estará na Casa Branca na quinta-feira (13).
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, que participou das negociações em Jeddah, disse que depois conversou com vários ministros das Relações Exteriores europeus “sobre os resultados da reunião histórica”.
Nesta quarta-feira (12), Sybiha viaja para a Polônia, vizinha da Ucrânia e membro da OTAN, que tem sido uma firme apoiadora de Kiev desde o início da guerra.
“Parece que os americanos e ucranianos deram um passo importante em direção à paz. E a Europa está pronta para ajudar a alcançar uma paz justa e duradoura”, disse o primeiro-ministro polonês Donald Tusk no X.
Waltz disse que a retomada inicial da assistência militar à Ucrânia envolveria equipamentos dos estoques dos EUA aprovados pelo ex-presidente Joe Biden e interrompidos por Trump.
À medida que a diplomacia se desenrola, as posições da Ucrânia no campo de batalha estão sob forte pressão , particularmente na região russa de Kursk, onde as forças de Moscou lançaram uma ofensiva para expulsar as tropas de Kiev, que tentavam manter um pedaço de terra como moeda de troca.
A Ucrânia lançou durante a noite seu maior ataque de drones contra Moscou e a região ao redor até agora, mostrando que Kiev também pode desferir grandes golpes após uma série constante de ataques com mísseis e drones russos, um dos quais matou 14 pessoas no sábado.
O ataque de terça-feira, no qual 337 drones foram derrubados sobre a Rússia, matou pelo menos três funcionários de um armazém de carnes e causou uma breve paralisação nos quatro aeroportos de Moscou.
Fonte: Reuters/ Daphne Psaledakis e Pesha Magid
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