O número de mortos pela enchente repentina de 4 de julho, que devastou uma faixa do centro de Texas Hill Country, aumentou nesta terça-feira para pelo menos 109, muitas delas crianças, enquanto equipes de busca avançavam por montes de detritos incrustados de lama em busca de dezenas de pessoas ainda desaparecidas.
De acordo com dados divulgados pelo governador Gregg Abbott, as autoridades estavam procurando mais de 180 pessoas cujo destino permanecia desconhecido quatro dias após uma das enchentes mais mortais dos EUA em décadas.
A maior parte das fatalidades e a busca por mais vítimas se concentraram no Condado de Kerr e na sede do condado, Kerrville, uma cidade de 25.000 habitantes transformada em zona de desastre quando chuvas torrenciais atingiram a região na manhã da última sexta-feira, inundando a bacia do Rio Guadalupe.
Os corpos de 94 vítimas das enchentes, cerca de um terço delas crianças, foram recuperados somente no Condado de Kerr até terça-feira, disse o governador do Texas, Greg Abbott, em uma entrevista coletiva no final da tarde, após visitar a área de avião.
Entre os mortos no Condado de Kerr estão 27 campistas e monitores do Acampamento Mystic, um retiro de verão cristão feminino com quase um século de existência, às margens do rio Guadalupe, perto da cidade de Hunt. A diretora do acampamento também faleceu.
Cinco meninas e um monitor do acampamento ainda estavam desaparecidos na terça-feira, disse Abbott, junto com outra criança não associada ao acampamento.
Até esta terça-feira (8), outras 15 mortes relacionadas a enchentes foram confirmadas em uma faixa do Texas Hill Country conhecida como “beco das enchentes repentinas”, disse o governador, elevando o total de vidas perdidas para 109. Relatórios de xerifes locais e da mídia estimaram o número de mortes por enchentes fora do Condado de Kerr em 22.
Mas as autoridades disseram que estavam se preparando para o aumento do número de mortos à medida que as águas da enchente recuavam e a busca por mais vítimas ganhava força.
As agências policiais compilaram uma lista de 161 pessoas “conhecidas como desaparecidas” somente no Condado de Kerr, disse Abbott. A lista foi verificada para identificar aqueles que poderiam estar sem contato com entes queridos ou vizinhos por estarem de férias ou fora da cidade, de acordo com o governador.
‘Encontre cada pessoa’
Ele disse que outras 12 pessoas estavam desaparecidas em outras áreas da zona de inundação, uma área extensa a noroeste de San Antonio.
“Precisamos encontrar cada pessoa desaparecida. Essa é a tarefa número um”, disse Abbott.
Na terça-feira, o cantor country Pat Green, nascido em San Antonio, revelou nas redes sociais que seu irmão mais novo, sua cunhada e dois de seus filhos estavam entre os “levados pela enchente de Kerrville”.
Atrapalhadas por tempestades e pancadas de chuva intermitentes, equipes de resgate de agências federais, estados vizinhos e do México uniram-se aos esforços locais para procurar vítimas desaparecidas, embora a esperança de encontrar mais sobreviventes tenha diminuído com o passar do tempo. A última vítima encontrada viva no Condado de Kerr foi na sexta-feira passada.
“O trabalho é extremamente traiçoeiro e demorado”, disse o Tenente-Coronel Ben Baker, do Texas Game Wardens, em uma coletiva de imprensa. “É um trabalho sujo. A água ainda está lá.”
Um álbum de fotos de família encharcado estava entre os pertences pessoais encontrados nos destroços da enchente por Sandi Gilmer, 46, uma veterana do Exército dos EUA e capelã certificada que se voluntariou na operação de busca ao longo do Guadalupe, em Hunt.
“Não sei quantas pessoas neste álbum estão vivas ou mortas”, disse ela, folheando imagens de duas crianças pequenas e um homem grisalho. “Não tive coragem de passar por cima dele sem pegá-lo e torcer para devolvê-lo a um membro da família”.
Construção de um desastre
Mais de 30 centímetros de chuva caíram na região em menos de uma hora antes do amanhecer da última sexta-feira, fazendo com que uma parede de água desabasse pelo Guadalupe, matando dezenas de pessoas e deixando pilhas de escombros, árvores arrancadas e veículos virados.
Autoridades públicas enfrentaram dias de questionamentos sobre se poderiam ter alertado as pessoas em áreas propensas a inundações antes.
A agência estadual de gerenciamento de emergências alertou na última quinta-feira, na véspera do desastre, que partes do centro do Texas enfrentavam ameaça de enchentes repentinas, com base nas previsões do Serviço Nacional de Meteorologia.
Mas o dobro de chuva prevista acabou caindo sobre dois braços do Guadalupe, logo acima da bifurcação onde eles convergem, fazendo com que toda aquela água corresse para o único canal do rio, onde corta Kerrville, disse o administrador municipal Dalton Rice.
Rice disse que o resultado foi imprevisto e ocorreu em questão de duas horas, deixando pouco tempo para realizar uma evacuação em massa por precaução sem o risco de colocar mais pessoas em perigo.
Cientistas disseram que eventos extremos de inundações estão se tornando mais comuns à medida que as mudanças climáticas criam padrões climáticos mais quentes e úmidos no Texas e em outras partes do país.
Em uma coletiva de imprensa anterior na terça-feira, o xerife do Condado de Kerr, Larry Leitha, rejeitou perguntas sobre as operações de emergência e preparação do condado e se recusou a dizer quem era o responsável final por monitorar alertas meteorológicos e emitir alertas de enchentes ou ordens de evacuação.
Ele disse que seu escritório começou a receber chamadas de emergência para o 911 entre 4h e 5h da manhã de sexta-feira, várias horas depois que a estação local do Serviço Nacional de Meteorologia emitiu um alerta de enchente repentina. “Estamos tentando elaborar um cronograma”, disse Leitha.
Abbott disse que uma sessão especial da legislatura do Texas será realizada no final deste mês para investigar a resposta à emergência e fornecer financiamento para o socorro ao desastre.
Fonte: Reuters/Jane Ross, Steve Gorman e Maria Tsvetkova
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