O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um aguardado acordo comercial com o Japão na noite desta terça-feira (22), algo que, apesar de serem aliados e grandes parceiros comerciais, parecia ilusório algumas semanas atrás.
“Acabamos de fechar um acordo enorme com o Japão, talvez o maior acordo já feito”, escreveu Trump no Truth Social.
Como parte do acordo, os importadores americanos pagarão tarifas “recíprocas” de 15% sobre produtos japoneses exportados para os Estados Unidos. O Japão também investirá US$ 550 bilhões nos Estados Unidos, segundo o presidente.
Trump acrescentou que os EUA “receberão 90% dos lucros”. Ele não especificou como esses investimentos funcionariam ou como os lucros seriam calculados. Nenhum termo oficial de compromisso foi divulgado.
“Este acordo criará centenas de milhares de empregos — nunca houve nada parecido. Talvez o mais importante seja que o Japão abrirá o país ao comércio, incluindo carros e caminhões, arroz e alguns outros produtos agrícolas, entre outros. O Japão pagará tarifas recíprocas aos Estados Unidos de 15%”, publicou Trump.
Pouco depois da publicação, Trump deu início aos comentários no Salão Leste na terça-feira à noite, destacando o acordo comercial com o Japão.
“Acabei de assinar o maior acordo comercial da história; acho que talvez o maior acordo da história com o Japão”, disse Trump durante uma recepção com membros republicanos do Congresso.
“Eles tinham seus melhores funcionários aqui, e trabalhamos muito e com afinco. E é um ótimo negócio para todos”, acrescentou Trump.
O acordo com o Japão foi a terceira notícia comercial anunciada por Trump na terça-feira. Isso ocorre após meses de negociações com importantes parceiros comerciais, como União Europeia, Coreia do Sul, Índia e dezenas de outros, à medida que se aproxima o prazo final de Trump, 1º de agosto, para colocar em vigor tarifas mais altas.
Negociações difíceis
Ambos os lados descreveram as negociações como tensas anteriormente. Questionado sobre a chance de um acordo comercial com o Japão em junho, Trump disse a repórteres a bordo do Air Force One: “Eles são durões. Os japoneses são durões”.
Mas, na terça-feira, Trump disse que o acordo marcou um “momento muito emocionante para os Estados Unidos da América, e especialmente pelo fato de que continuaremos a ter sempre um ótimo relacionamento com o Japão”.
No final do mês passado, Trump destacou as vendas de arroz como um ponto de discórdia entre as duas nações.
“Eles não querem aceitar nosso ARROZ, e ainda assim têm uma enorme escassez de arroz”, disse Trump em uma publicação no Truth Social.
O país comprou US$ 298 milhões em arroz dos EUA no ano passado, segundo dados comerciais do Departamento de Estatísticas dos Estados Unidos. Entre janeiro e abril deste ano, o Japão comprou US$ 114 milhões em arroz.
Mas um relatório de 2021 publicado pelo Gabinete do Representante Comercial dos Estados Unidos durante o governo do ex-presidente Joe Biden declarou que “o sistema altamente regulamentado e não transparente de importação e distribuição de arroz do Japão limita a capacidade dos exportadores dos EUA de terem acesso significativo aos consumidores japoneses”.
Carros – um pilar da economia japonesa – também têm sido um tema nas negociações. Trump afirmou que o Japão não importa carros dos EUA. “Não demos um único carro a eles em 10 anos”, disse ele no início deste mês.
No ano passado, o Japão importou 16.707 unidades de automóveis norte-americanos, de acordo com a Associação de Importadores de Automóveis do Japão.
Mas o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, encontrou-se com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, em Tóquio na semana passada e postou no X que estava otimista quanto a chegar a um acordo — um sinal de uma possível distensão.
“Um bom acordo é mais importante do que um acordo apressado, e um acordo comercial mutuamente benéfico entre os Estados Unidos e o Japão continua dentro do reino das possibilidades”, disse Bessent.
Mary Lovely, do Instituto Peterson, disse que o acordo aliviou a ameaça de tarifas ainda maiores sobre o Japão.
“O ‘acordo’ isenta o Japão da ameaça de tarifa de 25% e o coloca potencialmente em uma posição competitiva em relação a fornecedores americanos similares”, escreveu ela em um e-mail.
Inicialmente, no Dia da Libertação, em abril, o republicano havia direcionado uma alíquota de 24% contra os importados do país asiático.
No dia 7 de julho, ao iniciar uma série de reajustes contra alguns dos parceiros dos EUA, Trump elevou a 25% a tarifa aplicada sobre os produtos da terra do sol nascente.
“É improvável que os EUA vendam muitos carros e caminhões […] dos EUA. A liberalização agrícola [é] uma vitória para os consumidores japoneses, supondo que eles estejam dispostos a experimentar o excelente arroz da Califórnia”.
Um importante parceiro comercial
Ao contrário de alguns dos acordos que Trump anunciou recentemente, incluindo com a Indonésia e as Filipinas, o Japão é um parceiro comercial significativo dos Estados Unidos.
O Japão é a quinta maior fonte de importações dos Estados Unidos. No ano passado, o país embarcou US$ 148 bilhões em mercadorias para os EUA, segundo dados do Departamento de Comércio. Carros, autopeças e máquinas agrícolas e de construção estavam entre os principais produtos comprados de lá.
Produtos do Japão enfrentaram brevemente uma tarifa “recíproca” de 24% antes de Trump decretar uma pausa de 90 dias em abril. Desde então, os produtos têm enfrentado uma tarifa mínima de 10%.
Enquanto isso, os EUA exportaram US$ 80 bilhões em mercadorias para o Japão no ano passado. Petróleo e gás, produtos farmacêuticos e aeroespaciais foram as principais exportações.
O Japão está em uma posição desconfortável, já que a China é seu principal parceiro comercial e o governo Trump vem tentando pressionar os aliados a reduzir seus níveis de comércio com a China para fechar um acordo comercial com os EUA, de acordo com vários relatórios.
O tratado mais recente entre os EUA e o Japão segue um acordo comercial expandido que os dois países assinaram em 2019, que entrou em vigor no ano seguinte e permitiu que mais produtos fossem enviados sem impostos.
O Japão tinha alguma influência sobre os Estados Unidos em seu acordo comercial: o país é o maior credor estrangeiro dos EUA. O Japão detém US$ 1,1 trilhão em títulos do Tesouro norte-americano, usados para financiar a crescente dívida do país.
Fonte: CNN News/Elisabeth Buchwald e Kit Maher
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