Ilhas brasileiras como Fernando de Noronha, Trindade ou o Arquipélago São Pedro e São Paulo estão entre os locais mais importantes do mundo para espécies de peixes únicas, ou seja, que só existem ali, segundo um estudo global publicado nesta quarta-feira (10).
A pesquisa, que propõe uma nova forma de entender a biodiversidade marinha, analisou mais de 7 mil espécies de peixes recifais em 87 ilhas e arquipélagos, e incluiu expedições a recifes mesofóticos, que são ambientes com luz reduzida de até 150 metros de profundidade.
O trabalho, liderado por pesquisadores brasileiros em parceria com cientistas dos Estados Unidos, foi publicado no Peer Community Journal e conduzido por Hudson Pinheiro (membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza – RECN e pesquisador da USP), Luiz A. Rocha (Academia de Ciências da Califórnia) e Juan Pablo Quimbayo (Universidade de Miami).
Eles propõem uma nova forma de classificar espécies únicas, o chamado “endemismo insular-provincial”. Esse conceito não se limita a espécies que existem em apenas uma ilha, mas inclui aquelas que são exclusivas de um conjunto de ilhas próximas na mesma região, sem se espalharem para o continente.
Segundo os pesquisadores, cerca de 40% das espécies endêmicas se enquadram nessa categoria e apresentam distribuição extremamente limitada. O levantamento apontou que aproximadamente 12% da biodiversidade mundial de peixes recifais é formada por espécies endêmicas de ilhas.
Tosanoides aphrodite. Foto: Luiz A Rocha
“Percebemos que as ilhas brasileiras possuem uma importância muito maior do que pensávamos. Elas quase não eram citadas quando se falava em endemismo, mas nossos dados e novas interpretações mostram que são verdadeiros laboratórios naturais da evolução das espécies”, explica Hudson Pinheiro.
O perigo das mudanças climáticas
A nova forma de analisar a distribuição das espécies também mostra que a biodiversidade das ilhas é frágil. Segundo os pesquisadores, pequenas mudanças climáticas em locais isolados podem ter consequências devastadoras.
Quimbayo exemplifica com o caso da Azurina eupalama, um peixe exclusivo de Galápagos que desapareceu após o forte El Niño entre os anos de 1982 e 1983. O pesquisador alerta que “o desaparecimento de cada espécie pode gerar um efeito cascata, provocando desequilíbrio ecológico, especialmente em locais mais isolados, onde ocorrem um número reduzido de espécies”.
O estudo reforça a necessidade de um olhar mais atento para a conservação. Segundo os pesquisadores, para proteger esses ambientes, é preciso entender o tamanho e a vulnerabilidade das populações que vivem ali.
fonte: CNN Brasil/Mariana Grasso
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