O Tesouro Nacional estimou, nesta terça-feira (4), que a dívida pública federal aumentará até 16% neste ano, já que os títulos atrelados à taxa básica de juros podem ultrapassar a metade da dívida total, expondo-os à pressão agressiva do Banco Central para conter a inflação e tornando mais custoso para o país pagar suas dívidas.
O plano de financiamento anual do Tesouro prevê uma dívida variando de 8,1 trilhões de reais a 8,5 trilhões de reais (US$ 1,47 trilhão) em 2025, acima dos 7,316 trilhões de reais registrados em dezembro.
Também enfatizou a estratégia contínua de emissão de títulos convencionais e sustentáveis para fornecer uma referência para a curva de juros soberana brasileira, acrescentando que “pode usar operações de gestão de passivos externos para aumentar a eficiência da curva de juros”.
O Tesouro estimou que a parcela da dívida atrelada à taxa básica de juros Selic representará de 48% a 52% do total neste ano, após subir para 46,3% em 2024.
Esses títulos de taxa flutuante, conhecidos como LFTs, atingiram sua maior participação em 20 anos no ano passado, em meio à intensa volatilidade das mudanças nas expectativas de taxas de juros nos EUA e às preocupações com o crescente endividamento do Brasil.
Segundo o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, a estratégia de aumentar a participação dos títulos de renda fixa está alinhada ao apetite do mercado. “Não faz sentido trabalhar contra a demanda do mercado”, disse ele na coletiva de imprensa.
Esses títulos costumam ser mais atraentes para investidores durante períodos de maior percepção de risco, mas deixam os custos da dívida vulneráveis a aumentos acentuados quando as taxas de juros sobem.
Na semana passada, o banco central do Brasil aumentou as taxas em 100 pontos-base para atingir 13,25%, enquanto sinalizava um aumento correspondente em março para conter a inflação. Os preços na maior economia da América Latina estão atualmente pressionados pela atividade econômica robusta e uma moeda mais fraca em meio a problemas fiscais persistentes e um cenário global desafiador.
Cada aumento de taxa é imediatamente repassado para os custos de serviço de quase metade do pesado fardo da dívida do Brasil. A dívida bruta da nação sul-americana fechou 2024 em 76,1% do produto interno bruto (PIB), um nível considerado alto entre os pares de mercados emergentes.
O Tesouro manteve sua meta de longo prazo de reduzir a participação de LFTs na dívida total para 23% até 2035, mas Daniel Leal, secretário adjunto de dívida pública do Tesouro, disse que atingir esse nível ideal em um horizonte de dez anos pode não ser viável.
“Isso pode demorar um pouco mais”, disse ele, acrescentando que não acredita que o aumento da participação desses títulos na dívida total esteja dificultando a transmissão da política monetária.
Leal também destacou que o Tesouro começou o ano com uma abordagem de gestão de dívida muito mais equilibrada, observando que os leilões de janeiro foram “bastante bem-sucedidos”, com volumes significativamente maiores do que os vistos imediatamente antes.
Fonte: Agência Reuters/Marcela Ayres
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