O Brasil deixou de emitir vistos de trabalho temporário para a BYD, disse o Ministério das Relações Exteriores, na sexta-feira (27), após acusações de que alguns trabalhadores de uma unidade de propriedade da produtora chinesa de veículos elétricos foram vítimas de tráfico de pessoas.
O anúncio veio dias após autoridades trabalhistas dizerem que encontraram 163 trabalhadores chineses que foram trazidos ao Brasil irregularmente em condições “análogas à escravidão” no canteiro de obras da fábrica da BYD no estado da Bahia, no nordeste do país. Os trabalhadores eram empregados pela contratada Jinjiang Group, que negou qualquer irregularidade.
As autoridades também disseram que os trabalhadores eram vítimas de tráfico de pessoas. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, os trabalhadores entraram no Brasil com vistos de trabalho temporários.
A fábrica se tornou um símbolo da crescente influência da China na nação sul-americana e um exemplo de um relacionamento mais próximo entre os dois países. A BYD investiu US$ 620 milhões somente para montar o complexo fabril da Bahia.
O Brasil é o maior mercado externo da BYD, que não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre a decisão do ministério.
A fabricante chinesa de veículos elétricos disse que planeja iniciar a produção no Brasil no início do ano que vem, com uma produção anual inicial de 150.000 carros.
O Ministério da Justiça do Brasil disse em um comunicado separado na sexta-feira que, se as irregularidades encontradas pelos promotores na fábrica da BYD forem confirmadas, o Ministério revogará as autorizações de residência emitidas para os trabalhadores chineses.
O Ministério da Justiça já havia enviado um pedido ao Ministério das Relações Exteriores para suspender a emissão de vistos temporários da BYD em 20 de dezembro, três dias antes das conclusões das autoridades trabalhistas serem tornadas públicas, de acordo com uma fonte com conhecimento da comunicação.
A ordem foi então encaminhada à embaixada do Brasil em Pequim, acrescentou a fonte.
Em uma publicação nas redes sociais, na quinta-feira (26), que foi republicada por um porta-voz da BYD, o Jinjiang Group rejeitou as acusações das autoridades brasileiras sobre as condições de trabalho na unidade da Bahia.
O contratante disse que a descrição dos trabalhadores como “escravizados” era imprecisa e que houve mal-entendidos na tradução.
A BYD e a Jinjiang Group concordaram em ajudar e hospedar os 163 trabalhadores em hotéis até que um acordo para encerrar seus contratos seja alcançado, disse o Ministério Público do Trabalho do Brasil em um comunicado na quinta-feira, após reunião com representantes de ambas as empresas.
Quase um em cada cinco carros vendidos pela BYD fora da China nos primeiros 11 meses de 2024 foi no Brasil.
Fonte: Agência Reuters/Lisandra Paraguassu
Comente este post