Vários milhares de manifestantes indígenas marcharam cantando ao som de tambores nesta quinta-feira até a sede do poder na capital do Brasil para protestar contra o fracasso do governo em proteger suas terras ancestrais.
O evento anual deste ano focou a raiva indígena sobre os planos de construção de uma ferrovia para transportar grãos dos estados agrícolas para os portos da Amazônia para exportação, que eles temem que destrua o meio ambiente das comunidades tribais perto do rio Tapajós
Para uma maquete da ferrovia Ferrogrão, os manifestantes usaram um caminhão trator apelidado de “Trilhos da Destruição” e pintado com os nomes das multinacionais comerciantes de grãos ADM, Bunge, LDC e Cargill.
“Ferrogrão é o trem da morte, do desmatamento”, disse Alessandra Korap Munduruku, ganhadora do prêmio ambiental Goldman. “A ferrovia não vai transportar gente, como afirmam, mas sim a produção de grãos das empresas internacionais que financiam esse projeto”.
Kleber Karipuna, chefe da maior organização indígena do Brasil, APIB, disse que as comunidades não foram consultadas sobre a ferrovia, cujo anúncio do governo desencadeou uma onda de grilagem de terras ao longo do caminho planejado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu um grupo de 40 lideranças indígenas que liderou a marcha até uma praça localizada entre o palácio presidencial do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.
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“É meu dever moral fazer o que puder para minimizar o sofrimento dos povos indígenas e garantir seus direitos”, disse Lula no X.
Mas os líderes saíram com pouco mais do que promessas. “Saímos cientes de que nossa luta continua. Temos um governo que fala conosco, mas um lobby agrícola que o impede de governar”, disse aos repórteres o cacique Edinho, da tribo Macuxi, no estado de Roraima. Ele disse que 8 mil pessoas se juntaram à marcha.
A principal reclamação deles foi o fracasso do governo Lula em cumprir as promessas de reconhecer oficialmente as reservas indígenas que concluíram o processo de demarcação estabelecendo que são terras ancestrais. O reconhecimento é vital para proteger seus territórios da invasão de madeireiros ilegais, garimpeiros selvagens e grileiros de terras na frente de uma fronteira agrícola que está se expandindo para a Amazônia.
O governo minoritário de Lula também está indeciso sobre a aprovação do projeto ferroviário que conta com forte apoio do poderoso sector agrícola do Brasil.
A bancada agrícola no Congresso disse que está pressionando pela construção da ferrovia de 950 km (590 milhas), proposta pela primeira vez em 2015 para transportar soja do estado de Mato Grosso até o porto de Miritituba, no Tapajós, um afluente do Amazonas. rio.
“Somos a favor do Ferrogrão, projeto do Governo Federal de extrema importância para o embarque de grãos”, disse a bancada em comunicado. A ferrovia reduzirá em 25% os custos de frete e lançará na atmosfera menos CO² do que os caminhões que atualmente transportam os grãos.
Os líderes indígenas também instaram, na quarta-feira (24), a Suprema Corte do país a decidir sobre um caso pendente sobre o direito fundamental de seu povo às terras ancestrais, conforme estabelecido na Constituição, um direito que o Congresso votou para limitar no tempo.
Eles criticaram os legisladores por apresentarem projetos de lei que permitiriam a agricultura comercial e a mineração em terras de reservas, que temem que aumentem a exploração madeireira ilegal e o desmatamento.
Fonte: Agência Reuters
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