O envolvimento de povos indígenas na caça ilegal de ouro, atraídos pela perspectiva de dinheiro fácil devido aos preços recordes, tornou a tarefa do Brasil de reprimir a mineração ilegal na Amazônia muito mais difícil, dizem agentes ambientais e a polícia.
O território Munduruku, uma reserva do tamanho da Suíça no rio Tapajós, um importante tributário do Amazonas, se tornou um ponto crítico para a mineração ilegal, que a lei brasileira proíbe em terras indígenas.
Mas cada vez mais, membros da tribo Munduruku estão entrando no comércio ilegal apoiado pelo crime organizado.
Em uma recente operação de fiscalização do IBAMA, órgão ambiental brasileiro, agentes desceram de helicóptero em lagoas de rejeitos lamacentas e encontraram um acampamento em uma clareira, mas os mineradores fugiram, alertados pelo barulho dos helicópteros se aproximando.
Uma panela de pressão em um fogão a gás ainda estava quente, e cães latiam. Os agentes destruíram dois motores usados para bombear água através de filtros para capturar pepitas de ouro. Eles disseram que as redes e roupas eram evidências de que os mineradores eram indígenas.
Fabricante de dinheiro
Apesar da pobreza visível, o PIB per capita de Jacareacanga é de R$ 90.000, maior que o de São Paulo, a maior metrópole do Brasil, um sinal claro da riqueza ilegal que a mineração de ouro está gerando.
Pouquíssimos impostos são cobrados, embora o comércio de ouro seja público e aberto a todos em Jacareacanga.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu acabar com a mineração ilegal que cresceu durante o governo de seu antecessor de extrema direita, Jair Bolsonaro, e se tornou mais difícil de reprimir na Amazônia.
Expulsar mineradores se tornou mais difícil no território Munduruku agora que os membros da tribo estão procurando ouro. Líderes tribais estimam que 40% da mineração de ouro na reserva é realizada por povos indígenas hoje.
Para piorar a situação, policiais locais têm aceitado propinas de uma empresa de mineração de ouro para fazer vista grossa, de acordo com um documento visto pela Reuters.
Em uma vila a 10 minutos de barco, o chefe local Jonathan Kaba Biorebu disse que a maneira de parar a mineração ilegal é recorrer ao financiamento para o desenvolvimento sustentável. Ele sugeriu vender créditos de carbono para empresas que buscam compensações pela poluição.
Sua aldeia se beneficiou de um acordo de crédito de carbono assinado pela Associação Indígena Pusuru local, que planeja construir 40 poços para água potável. A associação construiu seus escritórios em Jacareacanga com financiamento de crédito de carbono.
Mas Kaba Biorebu está cético de que o crédito de carbono se tornará tão comum a ponto de gerar renda suficiente para substituir a mineração de ouro.
A população não indígena de Jacareacanga é totalmente a favor da legalização do garimpo.
“A renda aqui é a mineração de ouro”, disse o dono de uma loja de artigos gerais Claudemir Pereira. “A maioria da população aqui depende disso, até mesmo os povos indígenas, muitos dos quais trabalham na mineração de ouro para sobreviver.”
O coordenador do governo para expulsar a mineração de ouro de territórios indígenas, Nilton Tubino, rejeitou a legalização e disse que grandes mineradoras têm feito lobby contra ela. Um projeto de lei para legalizar a mineração informal está parado no Congresso.
Fonte: Agência Reuters/Ricardo Brito e Adriano Machado
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