Uma tempestade em um rio atmosférico mortal permaneceu sobre o sul da Califórnia pelo terceiro dia, nesta terça-feira (6), encharcando a região com chuvas que ameaçaram provocar mais inundações e deslizamentos de terra à medida que o sistema climático avançava em direção ao sudoeste do deserto.
Depois de um dia de chuvas recordes em toda a região, o alerta de enchentes no condado de Los Angeles foi estendido até o início de quarta-feira (7). Um alerta de enchentes repentinas foi publicado na costa do condado de Orange, e alertas de enchentes foram emitidos no extremo sul, até San Diego e na fronteira entre os EUA e o México.
Uma última, mas de curta duração, série de fortes chuvas estava prevista para encharcar o sul da Califórnia novamente na tarde e noite de quarta-feira (7), antes que as chuvas diminuíssem no final da semana.
Enquanto a chuva caía em Los Angeles, equipes de trabalho e residentes limpavam os danos causados por 475 deslizamentos de terra e quase 400 árvores caídas relatadas na segunda cidade mais populosa do país na noite de terça-feira, disseram as autoridades.
Árvores derrubadas e linhas de serviços públicos cortaram a eletricidade de centenas de milhares de residências e empresas, incluindo 156 mil clientes de serviços públicos que permaneciam sem energia em Los Angeles, na manhã de terça-feira (6). O serviço foi restaurado para a maioria deles ao anoitecer, disseram autoridades municipais.
A chefe dos bombeiros de Los Angeles, Kristin Crowley, disse que pelo menos três dúzias de edifícios precisavam de inspeção devido a danos causados por deslizamentos de terra e falhas nas encostas. Sete foram marcados como inseguros para ocupação.
“Mesmo que a chuva possa diminuir um pouco hoje, esta tempestade continua, e isso significa que ainda precisamos que os moradores de Angeleno tomem precauções”, disse a prefeita Karen Bass em entrevista coletiva.
‘Cenário único na vida’
Barry Blocker, 55, um policial aposentado, disse que passou várias horas, na segunda-feira (5), tirando seu carro de uma cascata de lama que desceu pela encosta de uma colina até sua garagem antes do amanhecer. A casa onde ele mora no bairro de Baldwin Hills, em Los Angeles, há 23 anos não sofreu danos.
“Espero que seja um cenário único na vida”, disse ele na terça-feira, enquanto estava em sua garagem, limpando a água e a sujeira do rescaldo.
Chuvas prolongadas que despejaram 15 a 30 cm de água em toda a cidade – e mais de trinta centímetros nas colinas de Hollywood – deixaram o solo tão “supersaturado” que será necessária muito pouca chuva adicional para desencadear mais deslizamentos de terra e fluxos de detritos, disse Ariel Cohen, meteorologista chefe do escritório do Serviço Meteorológico Nacional (NWS), em Los Angeles.
As chuvas intensas, com fortes nevascas nas montanhas, foram levadas para a Califórnia por um sistema de tempestades que os meteorologistas chamam de rio atmosférico, uma vasta corrente aérea de umidade densa canalizada para o interior a partir do Pacífico.
A última tempestade, e uma tempestade menos poderosa que atingiu a Califórnia na semana passada, também foi qualificada como um “Expresso do Abacaxi”, um tipo de rio atmosférico originário de águas subtropicais ao redor do Havaí.
Embora estas tempestades não sejam incomuns na Costa Oeste, os meteorologistas dizem que é provável que se tornem mais frequentes e extremas ao longo do próximo século se o aquecimento planetário devido às alterações climáticas induzidas pelo homem continuar aos ritmos atuais.
Os cientistas dizem que o padrão climático predominante do El Nino está contribuindo para algumas das recentes atividades de tempestades ao longo da costa do Pacífico.
“Não podemos dizer que o El Niño causou esta tempestade, mas um evento El Niño forte como este definitivamente torna mais fácil para a atmosfera produzir o tipo de padrão propício a este tipo de sistema”, disse Daniel Swain, analista climático cientista e meteorologista da Universidade da Califórnia, Los Angeles.
Swain disse que outro fator responsável pela extrema intensidade da tempestade foi que o sistema turbilhonante de baixa pressão que a impulsionava se fortaleceu tão rapidamente, alcançando o status de “bomb gênese”, ou ciclone bomba, quando atingiu a costa no norte da Califórnia.
A última tempestade começou na Califórnia com ventos fortes soprando de 121 quilômetros por hora e mais rápidos no norte e centro da Califórnia no sábado, antes de se espalhar pelo sul da Califórnia na manhã de domingo.
Pelo menos três pessoas morreram quando o vento derrubou árvores no domingo nos condados de Sacramento, Santa Cruz e Sutter, disseram as autoridades.
Nos dias seguintes, inundações repentinas forçaram o fechamento generalizado de ruas em todo o sul da Califórnia, e a polícia relatou dezenas de colisões de trânsito relacionadas à tempestade.
Numerosos bairros considerados especialmente vulneráveis a deslizamentos de terra foram colocados sob ordens e avisos de evacuação.
Embora a diminuição das chuvas tenha ocorrido nas áreas metropolitanas de Los Angeles e San Diego na terça-feira, o aumento da precipitação foi previsto para o deserto da Califórnia e a bacia do rio Colorado à medida que a frente da tempestade chega ao Arizona.
Em Los Angeles, o ataque violento de chuva e neve entrará no livro dos recordes como uma das tempestades mais chuvosas em mais de 150 anos, segundo meteorologistas.
Fonte: Agência Reuters
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