Em produção desde 2009, a vacina do Instituto Butantan contra a dengue está em fase final de ensaios clínicos. O imunizante, batizado de Butantan-DV, apresentou eficácia de quase 80%. Após décadas de estudo, a expectativa é de que esteja disponível nos postos de saúde até o início do próximo ano.
Em junho, o último paciente voluntário a receber a dose experimental completa cinco anos de acompanhamento, e a previsão do instituto é que o pedido de registro seja submetido para análise da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já no mês seguinte.
O diretor do Butantan, Esper Georges Kallás, deu detalhes sobre a ação do imunizante, que será o primeiro contra a dengue com dose única, resultado de um empenho de décadas. Batizada de Butantan-DV, a vacina apresentou uma eficácia de quase 80% e protege contra os quatro sorotipos da doença. “A gente torce para que ela esteja disponível até o começo do ano que vem, mas vamos trabalhar para ser antes disso”, afirma.
O médico infectologista diz estar otimista também em relação à vacina da chikungunya, que, segundo ele, pode chegar ao Sistema Único de Saúde (SUS) antes do imunizante contra a dengue. Ele avalia ainda a queda da cobertura vacinal no país e a importância da produção de imunizantes nacionais.
Para Kallás, a queda dos indicadores de imunização no país é multifatorial. “Há várias coisas envolvidas, vem acontecendo mais ou menos desde 2016. O processo de desmobilização dos nossos programas de imunização se dá por razões múltiplas: crises econômica, política e financeira, seguidas de políticas públicas que receberam uma interferência muito grande durante a pandemia. Há uma culpa da gestão, da conscientização e da pandemia em si. A emergência levou à adoção de medidas que eram diferentes das que estávamos habituados. Trouxe, de certa forma, um pouco de insegurança no debate, forçada pela polarização política”.
“Há números que trazem muita preocupação. Eu partiria do exemplo da vacina da influenza que, no Brasil, é administrada para pessoas acima de 60 anos. O país tinha cobertura de quase 100%. Depois da pandemia, a gente está beirando a metade desse percentual. Uma mistura de fatores levou a isso e estamos perdendo um espaço muito grande de proteção”, disse.
A vacina da dengue do Instituto Butantan mostrou eficácia de quase 80%
“Ficamos muito felizes com o resultado, foi um trabalho enorme feito por 16 centros de pesquisa espalhados pelo país sob a coordenação do Instituto Butantan. Faço um agradecimento muito especial aos quase 17 mil voluntários, toda a equipe do Butantan de produção, de avaliação de dados, de avaliação clínica, o resultado foi extraordinário. Esse trabalho é reconhecido como um dos principais deste ano na área de vacinas no mundo todo”, declara o diretor do Butantan.
O que falta para que a vacina possa ser ofertada nos postos de saúde
Kallás diz que “temos ainda a tarefa de continuar conseguindo voluntários até completar os cinco anos. Isso vai terminar em julho, e já estamos conversando com a Anvisa. Temos reuniões regulares com eles, que foram sensibilizados pela situação de emergência que estamos vivendo. A Anvisa abriu esse canal de discussão com o Instituto Butantan, para responder todas as questões e necessidades que a gente tem que incorporar ao processo de produção da vacina para ter o seu registro reconhecido pelo órgão regulador. Quem está olhando de fora fala: isso é uma coisa simples, você manda e, no dia seguinte, eles respondem. Não é assim”.
Fonte: Correio Braziliense
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