Alguns dos temas que podem impactar a relação Brasil-Estados Unidos a depender do resultado das eleições americanas, que acontecem nesta terça-feira (5), são a proteção à democracia, defesa do meio ambiente, relação com a China e posicionamento sobre as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, entre outros.
Vão se enfrentar nas urnas, de um lado, o ex-presidente Donald Trump, figura do partido republicano que representa a extrema direita, e, de outro, a vice-presidente Kamala Harris, democrata com perfil mais progressista que pode ser a primeira mulher, com origem negra e asiática, a liderar a nação mais poderosa do mundo.
Tanguy Baghdadi, professor de relações internacionais e fundador do podcast Petit Journal, e com Hussein Kalout, cientista político e ex-secretário de Ações Estratégicas do governo de Michel Temer, analisa as perspectivas para as relações diplomáticas entre os dois países.
Caso Donald Trump vença
Levando em consideração o último mandato de Donald Trump, Tanguy Baghdadi entende que o estilo de fazer política externa do ex-presidente americano é o de se aproximar de países e líderes que “aceitem sua liderança”, mesmo que não sejam da mesma ala política.
“Não há uma garantia de que a relação seria ruim, até porque, o Lula também, em diversos momentos, já buscou a aproximação com líderes que não eram exatamente de esquerda. Então, há uma certa facilidade dos dois em promover esse diálogo”, analisa.
Para Baghdadi, a comunicação entre o atual presidente Lula e Trump seria de uma forma mais protocolar, mantendo acordos existentes entre os dois países, o que ele descreve como “uma certa manutenção de um relacionamento bilateral respeitoso”. O professor prevê ainda que, inicialmente, a relação seja de certa “desconfiança” e “frieza”.
Apoio político
Tanto Tanguy Baghdadi quanto Husseim Kalout entendem que a próxima eleição presidencial no Brasil pode ser desafiadora para uma eventual chapa petista considerando que Trump apoiou o então presidente Jair Bolsonaro em 2022 — ambos falam com o mesmo eleitorado de direita e têm discursos parecidos, diz Baghdadi.
Tanto Tanguy Baghdadi quanto Husseim Kalout entendem que a próxima eleição presidencial no Brasil pode ser desafiadora para uma eventual chapa petista considerando que Trump apoiou o então presidente Jair Bolsonaro em 2022 — ambos falam com o mesmo eleitorado de direita e têm discursos parecidos, diz Baghdadi.
Visões opostas: meio ambiente, China e Venezuela
Caso Donald Trump volte a presidir os EUA, o Brasil pode ter que lidar com uma mudança drástica em alguns segmentos, avaliam os especialistas. Apesar de o eixo comercial de investimentos ser mantido, o que diz respeito ao meio ambiente pode colapsar, entende Kalout.
O ex-secretário de Ações Estratégicas do governo Temer também acredita que o Brasil pode ser “empurrado a buscar um alinhamento quase que automático com a China, o que seria um fato inédito na política externa brasileira”.
“O governo Biden tem tido prudência para lidar com a rivalidade entre Estados Unidos e China, ele sabe que pode ter consequências graves. O Trump é muito mais agressivo. (…) Isso tende a ter impactos diretos nas escolhas do Brasil entre China e Estados Unidos”, diz Hussein Kalout.
Outro ponto sensível nesta relação seria a Venezuela. Husseim Kalout explica que, por mais que o governo brasileiro cobre as atas das eleições venezuelanas de 2024 e ainda não tenha reconhecido o resultado do pleito, Trump, por sua vez, é muito mais enfático que Joe Biden e Kamala Harris ao criticar o governo de Nicolás Maduro.
Caso Kamala Harris vença
No caso de uma vitória de Kamala Harris, os especialistas ponderam que eixos hoje já existentes poderão ser mantidos, como:
- preservação do multilateralismo;
- importância da ordem democrática;
- entendimento da liberdade de expressão nas redes;
- proteção dos direitos humanos; e
- defesa do meio ambiente.
Posição política
Tanguy Baghdadi observa que tanto a agenda de Lula quanto a de Kamala (e antes a de Biden) na luta contra a direita são muito parecidas.
Durante um encontro em fevereiro de 2023, Lula e Biden reafirmaram os laços políticos, econômicos e culturais, marcados pelo entendimento de proteção à democracia, dos direitos humanos e da preservação do meio ambiente.
Tanguy Baghdadi observa que tanto a agenda de Lula quanto a de Kamala (e antes a de Biden) na luta contra a direita são muito parecidas.
Durante um encontro em fevereiro de 2023, Lula e Biden reafirmaram os laços políticos, econômicos e culturais, marcados pelo entendimento de proteção à democracia, dos direitos humanos e da preservação do meio ambiente.
Posicionamento internacional
Husseim Kalout ressalta que Brasil e Estados Unidos são considerados países parceiros, mas não aliados.
Isso porque, embora os EUA sejam o segundo maior parceiro comercial do Brasil, no entendimento americano, são aliadas as nações que se apoiam militarmente — o que não é o caso, explica o cientista político.
Os dois países têm perfis muito diferentes no que diz respeito à política externa, comenta Tanguy. Com isso, posicionamentos quanto à guerra na Ucrânia e em Israel e outros países do Oriente Médio podem ser bastante distintos. A postura do Brasil, segundo o professor, é de maior proximidade com países parecidos com o contexto brasileiro.
“Eu não espero que nenhum dos dois governos, seja um governo de Trump, seja um governo da Kamala, vá ter o Brasil como grande prioridade. Eu acho que atualmente é uma relação de distância e ela vai continuar sendo assim”, conclui Tanguy Baghdadi.
Fonte: g1
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