A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que ajudou a transformar o país em um dos principais exportadores de grãos, está preparando um programa de pesquisa de 12 anos que pode fazer o mesmo com o cultivo de cannabis na potência agrícola.
Cientistas da Embrapa, que desenvolveram variedades genéticas de grãos, algodão e vegetais mais adequadas ao clima tropical do Brasil, esperam que a agência sanitária Anvisa dê sinal verde ainda este ano para o programa de pesquisa com cannabis.
“Imagina se já tivéssemos feito o melhoramento genético dessa planta como fizemos com o algodão nos últimos 50 anos?”, disse Daniela Bittencourt, pesquisadora do grupo de trabalho de cannabis da Embrapa.
Os planos da Embrapa incluem a criação de um banco de sementes de cannabis e a adaptação de variedades ao solo e clima brasileiros, além de ajudar a identificar e desenvolver polos regionais de produção de cannabis em todo o país, disse ela.
Bittencourt disse que cerca de dez empresas nacionais e internacionais já contataram a Embrapa sobre parcerias de pesquisa em cannabis. As empresas estão interessadas em aplicações que vão de medicamentos a produtos alimentícios, bem como explorar características para facilitar a rotação de culturas ou fixar carbono no solo.
Esforços semelhantes da Embrapa desde a década de 1970 abriram vastas regiões do Brasil para o cultivo produtivo de soja, por exemplo, dando início a um aumento de dez vezes na produção de soja do Brasil, tornando-o o maior produtor mundial.
Uma decisão do tribunal superior brasileiro em novembro legalizou o plantio de um tipo de cannabis conhecido como cânhamo para fins medicinais, dando à Anvisa até maio para estabelecer regulamentações.
Outra audiência judicial negou o pedido da Anvisa para estender esse prazo em seis meses. A agência de saúde não comentou imediatamente sobre a decisão.
A venda recreativa de maconha continua ilegal no Brasil, ao contrário de pioneiros como Uruguai e Canadá no Hemisfério Ocidental, que incentivaram as indústrias nacionais de cannabis.
Por enquanto, a decisão judicial de novembro abriu as portas no Brasil para o plantio de cânhamo, uma versão da cannabis com menos de 0,3% do composto psicoativo THC. A variedade é frequentemente cultivada para canabidiol (CBD), usado para fins medicinais, e suas fibras, que têm várias aplicações industriais.
Kiara Cardoso, fundadora da DNA Soluções em Biotecnologia, que venceu a ação judicial permitindo que ela e outras empresas interessadas solicitassem uma licença de plantio, disse que espera que a produção de cânhamo em larga escala no Brasil abasteça as indústrias de papel, têxtil e alimentícia.
No momento, ela disse, as regras de plantio podem restringir o cultivo a pequenos espaços internos que atendem a protocolos rigorosos para cadeias de suprimentos farmacêuticos.
A China, maior parceira comercial do Brasil, é a maior produtora e exportadora mundial de cânhamo, segundo pesquisa acadêmica. Países como França e Paraguai também autorizaram o cultivo para fins industriais e medicinais.
Fonte: Agência Reuters/Ana Mano
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