Charlie Kirk, um ativista conservador e aliado próximo do presidente Donald Trump que desempenhou um papel influente na mobilização de jovens eleitores republicanos, foi baleado e morto, nesta quarta-feira (10), em um evento universitário de Utah, no que o governador chamou de assassinato político realizado do alto de um telhado.
“Este é um dia sombrio para o nosso estado. É um dia trágico para a nossa nação”, disse o governador de Utah, Spencer Cox . “Quero deixar bem claro que este é um assassinato político”.
Nenhum suspeito foi preso na noite de quarta-feira, embora as autoridades estivessem procurando por uma nova pessoa de interesse, de acordo com um policial familiarizado com o assunto, que não estava autorizado a discutir a situação nominalmente e falou sob condição de anonimato. Duas pessoas foram detidas no início do dia, mas nenhuma delas teve qualquer ligação com o tiroteio e ambas foram liberadas, disseram autoridades de segurança pública de Utah.
As autoridades não identificaram imediatamente o motivo, mas as circunstâncias do tiroteio chamaram a atenção para uma crescente ameaça de violência política nos Estados Unidos, que nos últimos anos tem atravessado todo o espectro ideológico. O assassinato atraiu condenação bipartidária, mas uma avaliação nacional sobre maneiras de evitar que queixas políticas se manifestem em violência letal parecia ilusória.
Vídeos postados nas redes sociais pela Universidade de Utah Valley mostram Kirk falando em um microfone de mão, sentado sob uma tenda branca com os slogans “The American Comeback” e “Prove Me Wrong”. Um único tiro é disparado e Kirk pode ser visto erguendo a mão direita enquanto uma grande quantidade de sangue jorra do lado esquerdo do pescoço. Espectadores atordoados são ouvidos ofegando e gritando antes que as pessoas comecem a correr. A Associated Press confirmou que os vídeos foram gravados no pátio do Sorensen Center, no campus da Universidade de Utah Valley.
Kirk discursava em um debate promovido por sua organização política sem fins lucrativos. Imediatamente antes do tiroteio, Kirk respondia a perguntas de um membro da plateia sobre tiroteios em massa e violência armada.
“Você sabe quantos americanos transgênero foram atiradores em massa nos últimos 10 anos?”, perguntou a pessoa. Kirk respondeu: “Muitos.”
O questionador continuou: “Você sabe quantos atiradores em massa ocorreram na América nos últimos 10 anos?”
“Contar ou não contar a violência de gangues?”, perguntou Kirk.
Então, um único tiro foi disparado. O atirador, que Cox prometeu que seria responsabilizado em um estado com pena de morte, vestia roupas escuras e atirou do telhado de um prédio a alguma distância, em direção ao pátio onde o evento ocorreu.
Cerca de 3.000 pessoas estavam presentes, de acordo com uma declaração do Departamento de Segurança Pública de Utah, que também disse que o departamento de polícia da universidade tinha seis policiais trabalhando no evento, juntamente com a equipe de segurança de Kirk.
A morte foi anunciada nas redes sociais por Trump, que elogiou Kirk, de 31 anos, cofundador e CEO da organização juvenil Turning Point USA , como “Grande e até Lendário”. Mais tarde na quarta-feira, ele divulgou um vídeo gravado da Casa Branca no qual chamou Kirk de “mártir da verdade e da liberdade” e culpou a retórica da “esquerda radical” pelo assassinato.
A Universidade Utah Valley informou que o campus foi imediatamente evacuado e permaneceu fechado. As aulas foram canceladas até novo aviso. Aqueles que ainda estavam no campus foram instruídos a permanecer no local até que policiais pudessem escoltá-los com segurança para fora do campus. Policiais armados percorreram o bairro vizinho ao campus, batendo de porta em porta e pedindo informações sobre o atirador.
Os policiais foram vistos olhando uma foto em seus celulares e mostrando-a às pessoas para ver se elas reconheciam alguma pessoa de interesse.
O evento, anunciado como a primeira parada da turnê “The American Comeback Tour” de Kirk, gerou uma reação polarizada no campus. Uma petição online pedindo que os administradores da universidade impedissem Kirk de comparecer recebeu quase 1.000 assinaturas. A universidade emitiu uma declaração na semana passada citando os direitos da Primeira Emenda e afirmando seu “compromisso com a liberdade de expressão, a investigação intelectual e o diálogo construtivo”.
Na semana passada, Kirk postou no X imagens de clipes de notícias mostrando que sua visita estava gerando polêmica. Ele escreveu: “O que está acontecendo em Utah?”
O tiroteio atraiu rápida condenação no cenário político, com autoridades democratas se juntando a Trump, que ordenou que as bandeiras fossem baixadas a meio mastro e emitiu uma proclamação presidencial, e aliados republicanos de Kirk condenando a violência.
“O ataque a Charlie Kirk é repugnante, vil e repreensível”, postou no X o governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, que recebeu Kirk em seu podcast em março passado.
“O assassinato de Charlie Kirk parte meu coração. Minhas mais profundas condolências estão com sua esposa, seus dois filhos pequenos e seus amigos”, disse Gabrielle Giffords, ex-congressista democrata ferida em um tiroteio em 2011 em seu distrito no Arizona.
O tiroteio parecia prestes a se tornar parte de uma onda de violência política que atingiu diversas ideologias e representantes dos dois principais partidos. Os ataques incluem o assassinato de uma deputada estadual de Minnesota e seu marido em sua casa em junho, o ataque com bomba incendiária a um desfile no Colorado para exigir a libertação de reféns pelo Hamas e um incêndio na casa do governador da Pensilvânia , que é judeu, em abril. O mais notório desses eventos é o assassinato a tiros de Trump durante um comício de campanha no ano passado.
O ex-congressista de Utah Jason Chaffetz, um republicano que estava no evento de quarta-feira, disse em uma entrevista no Fox News Channel que ouviu um tiro e viu Kirk recuar.
“Parecia que foi um tiro certeiro”, disse Chaffetz, que parecia abalado enquanto falava.
Ele disse que havia pouca presença policial no evento e que Kirk tinha alguma segurança, mas não o suficiente.
Allison Hemingway-Witty chora após Charlie Kirk ser baleado. Foto: Tess Crowley/The Deseret News
“Utah é um dos lugares mais seguros do planeta”, disse ele. “E por isso simplesmente não temos esse tipo de coisa.”
O Turning Point foi fundado no subúrbio de Chicago em 2012 por Kirk, então com 18 anos, e William Montgomery, um ativista do Tea Party, para fazer proselitismo em campi universitários por impostos baixos e governo limitado. Não foi um sucesso imediato.
Mas o zelo de Kirk em confrontar os liberais no meio acadêmico acabou conquistando um grupo influente de financistas conservadores.
Apesar das dúvidas iniciais, a Turning Point apoiou Trump com entusiasmo depois que ele conquistou a indicação do Partido Republicano em 2016. Kirk atuou como assessor pessoal de Donald Trump Jr., o filho mais velho do presidente, durante a campanha eleitoral geral.
Logo, Kirk se tornou presença constante na TV a cabo, onde se aprofundava nas guerras culturais e elogiava o então presidente. Trump e seu filho eram igualmente efusivos e frequentemente discursavam nas conferências Turning Point.
Fonte: Associated Press/HANNAH SCHOENBAUM, ALANNA DURKIN RICHER, MARK SHERMAN e ERIC TUCKER
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