Centenas de palestinos protestaram no norte de Gaza para exigir o fim da guerra , gritando “Fora Hamas”, mostraram postagens nas redes sociais, em uma rara demonstração pública de oposição ao grupo militante que desencadeou a guerra mais recente com seu ataque a Israel em 7 de outubro de 2023.
O norte de Gaza tem sido uma das áreas mais devastadas de Gaza. A maioria dos prédios na área densamente povoada foi reduzida a escombros e grande parte da população se mudou várias vezes para escapar do conflito.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi rápido em dizer que o protesto mostrou que a decisão de Israel de renovar sua ofensiva estava funcionando em Gaza, onde a polícia do Hamas – a força motriz do grupo – desapareceu mais uma vez após emergir durante um cessar-fogo.
“Fora, fora, fora, Hamas, saia”, gritavam aqueles vistos em um dos posts publicados no X, aparentemente da região de Beit Lahiya, em Gaza, na terça-feira. Mostrava pessoas marchando por uma rua empoeirada entre prédios danificados pela guerra.
“Foi uma manifestação espontânea contra a guerra porque as pessoas estão cansadas e não têm para onde ir”, disse uma testemunha, que falou sob a condição de que seu nome não fosse usado por medo de retaliação.
“Muitos gritavam slogans contra o Hamas, não todas as pessoas, mas muitas, dizendo ‘Fora Hamas’. As pessoas estão exaustas e ninguém deve culpá-las”, disse ele.
As postagens começaram a circular amplamente na terça-feira à noite. A Reuters conseguiu confirmar a localização do vídeo por prédios, postes de serviços públicos e layout de estradas que correspondem às imagens de satélite da área. Vários vídeos e fotografias compartilhados nas redes sociais mostraram protestos na área em 25 de março.
Ativistas de mídia social circularam um vídeo que disseram ser de um protesto de centenas de pessoas em Shejaia, um subúrbio da Cidade de Gaza, na quarta-feira, pedindo a demissão do Hamas, indicando que os protestos anti-Hamas podem estar se espalhando.
Basem Naim, alto funcionário do Hamas, disse que as pessoas tinham o direito de protestar contra o sofrimento causado pela guerra, mas denunciou o que chamou de “agendas políticas suspeitas” explorando a situação.
“De onde eles são, o que está acontecendo na Cisjordânia?”, ele disse. “Por que eles não protestam contra a agressão lá ou permitem que as pessoas saiam às ruas para denunciar essa agressão?”
Os comentários, refletindo tensões entre facções palestinas sobre o futuro de Gaza, vieram várias horas depois que o movimento rival Fatah pediu ao Hamas para “responder ao chamado do povo palestino na Faixa de Gaza”. O Fatah lidera a Autoridade Palestina (AP) na Cisjordânia ocupada.
Tensões políticas
Mais de 50.000 palestinos foram mortos pela campanha israelense em Gaza, dizem autoridades palestinas. Ela foi lançada depois que milhares de homens armados liderados pelo Hamas atacaram comunidades no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando 1.200 pessoas e sequestrando 251 como reféns, de acordo com contagens israelenses.
Grande parte do estreito enclave costeiro foi reduzido a escombros, deixando centenas de milhares de pessoas abrigadas em tendas ou prédios bombardeados.
Centenas de milhares de moradores que haviam fugido para o sul de Gaza no início da guerra retornaram para suas casas destruídas no norte depois que um cessar-fogo entrou em vigor em janeiro.
Agora, Israel emitiu novas ordens de evacuação após relançar sua ofensiva em 18 de março. “Toda Gaza está em ruínas e agora a ocupação nos ordenou a deixar o norte novamente. Para onde ir?”, disse a testemunha nos protestos.
Desde que Israel retomou seus ataques a Gaza, dizendo que seu objetivo era desmantelar completamente o Hamas, quase 700 pessoas, a maioria mulheres e crianças, foram mortas, de acordo com autoridades de saúde palestinas.
O Hamas mobilizou milhares de policiais e forças de segurança por Gaza depois que o cessar-fogo entrou em vigor em janeiro, mas sua presença armada diminuiu drasticamente desde que os principais ataques de Israel foram retomados. Menos policiais estavam presentes em algumas áreas, enquanto membros e líderes do braço armado saíram do radar para evitar ataques aéreos israelenses.
O analista palestino Akram Attallah disse que o Hamas, que controlou a oposição pública antes da guerra, teria poucas opções para reprimir as manifestações se elas ganhassem força.
“As pessoas estão exaustas e pagaram com suas vidas e propriedades, e o grupo está enfrentando uma ofensiva militar israelense devastadora que o torna mais fraco para reprimir os manifestantes, mesmo que quisesse”, disse ele.
O Hamas assumiu o controle de Gaza em 2007 em eleições que varreram o grupo Fatah do presidente palestino Mahmoud Abbas. Ele governou o enclave desde então, oferecendo pouco espaço para oposição.
Os dois movimentos estão em desacordo há anos e não conseguiram superar as diferenças sobre o futuro de Gaza no pós-guerra, que a AP diz que deve ficar sob sua autoridade.
O Hamas, embora tenha expressado disposição de deixar de ter uma participação ativa no governo, diz que deve estar envolvido na seleção de qualquer administração que venha a seguir.
Fonte: Reuters/Nidal Al-Mughrabi e Ali Sawafta
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