Mais de quatro quintos das áreas de recifes de corais do mundo foram afetadas pelo devastador branqueamento em massa provocado por temperaturas oceânicas recordes, deixando muitos recifes antes coloridos com uma tonalidade pálida fantasmagórica, disseram autoridades científicas nesta quarta-feira (23).
O branqueamento é desencadeado por anomalias na temperatura da água, que fazem com que os corais expulsem as algas coloridas que vivem em seus tecidos. Sem a ajuda das algas no fornecimento de nutrientes aos corais, eles não conseguem sobreviver.
O quarto evento de branqueamento em massa do mundo, declarado por cientistas há um ano, mostrou poucos sinais de desaceleração, de acordo com a Iniciativa Internacional para Recifes de Coral e dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA, que monitoram a saúde dos recifes. Em vez disso, tornou-se o mais generalizado já registrado, com 84% das áreas de recifes – do Oceano Índico ao Atlântico e ao Pacífico – submetidas a intenso estresse térmico por um período que deverá causar branqueamento a partir de março de 2025.
O ano passado foi o mais quente já registrado e o primeiro a atingir mais de 1,5 grau Celsius a mais do que na época pré-industrial, contribuindo para temperaturas oceânicas sem precedentes e o triplo do número recorde anterior de ondas de calor marinhas ao redor do mundo.
“A magnitude e a extensão do estresse térmico são chocantes”, disse Melanie McField, cientista marinha que trabalha no Caribe. “Alguns recifes que até então haviam escapado de um grande estresse térmico e que considerávamos relativamente resilientes, sucumbiram a mortalidades parciais em 2024.”
“O branqueamento é sempre assustador — como se uma nevasca silenciosa tivesse caído sobre o recife”, acrescentou ela.
Eventos anteriores em 1998, 2010 e 2014-17 viram 21%, 37% e 68% dos recifes submetidos a estresse térmico em nível de branqueamento, respectivamente.
Biólogos marinhos alertaram no início do ano passado que os recifes do mundo estavam à beira de um branqueamento em massa após meses de calor recorde nos oceanos, alimentado pelas mudanças climáticas induzidas pelo homem e pelo padrão climático El Niño, que produz temperaturas oceânicas excepcionalmente altas ao longo do Equador e no Pacífico.
Em dezembro de 2024, um fraco padrão La Niña, que normalmente traz temperaturas mais baixas ao oceano, deu aos cientistas esperança de que os corais pudessem se recuperar, mas durou apenas três meses.
Em vez disso, o branqueamento continuou a se espalhar, disse Derek Manzello, coordenador do programa NOAA Coral Reef Watch. As Ilhas Salomão e Papua-Nova Guiné foram recentemente adicionadas à lista de 82 países e territórios que registram estresse térmico em suas águas, atingindo níveis de branqueamento.
Os cientistas levarão anos para entender a extensão global da morte dos recifes de corais, mas eles dizem que já observaram uma mortalidade generalizada em partes do Caribe, no Mar Vermelho e ao longo da Grande Barreira de Corais da Austrália.
Fonte: Reuters/Gloria Dickie e Ali Withers
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