Amputações de membros são realizadas por cirurgiões quando uma lesão traumática, como um ferimento de guerra ou um acidente de veículo, causa grande destruição de tecido ou em casos de infecção ou doença séria. Mas os humanos não estão sozinhos em fazer tais procedimentos.
Novas pesquisas mostram que algumas formigas realizam amputações de membros em camaradas feridos para melhorar suas chances de sobrevivência. O comportamento foi documentado em formigas carpinteiras da Flórida – nome científico Camponotus floridanus – uma espécie marrom avermelhada com mais de 1,5 cm de comprimento que habita partes do sudeste dos Estados Unidos.
Essas formigas foram observadas tratando membros feridos de companheiras de ninho, seja limpando o ferimento usando suas partes bucais ou por amputação através da mordida do membro danificado. A escolha do cuidado dependia da localização do ferimento. Quando era mais acima na perna, elas sempre amputavam. Quando era mais abaixo, elas nunca amputavam.
“Neste estudo, descrevemos pela primeira vez como um animal não humano usa amputações em outro indivíduo para salvar sua vida”, disse o entomologista Erik Frank, da Universidade de Würzburg, na Alemanha, principal autor da pesquisa publicada na terça-feira (2) no periódico Current Biology.
“Estou convencido de que podemos dizer com segurança que o ‘sistema médico’ das formigas para cuidar dos feridos é o mais sofisticado do reino animal, rivalizado apenas pelo nosso”, acrescentou Frank.
Esta espécie nidifica em madeira podre e defende seu lar vigorosamente contra colônias de formigas rivais.
“Se ocorrerem brigas, há risco de ferimentos”, disse Frank.
Os pesquisadores estudaram ferimentos na parte superior da perna, o fêmur, e na parte inferior, a tíbia. Tais ferimentos são comumente encontrados em formigas selvagens de várias espécies, sofridos em brigas, durante a caça ou por predação de outros animais.
As formigas foram observadas em condições de laboratório.
“Eles decidem entre amputar a perna ou passar mais tempo cuidando do ferimento. Como eles decidem isso, não sabemos. Mas sabemos por que o tratamento difere”, disse Frank.
Tem a ver com o fluxo de hemolinfa, o fluido azul esverdeado equivalente ao sangue na maioria dos invertebrados.
“Lesões mais abaixo na perna têm um fluxo de hemolinfa aumentado, o que significa que os patógenos já entram no corpo depois de apenas cinco minutos, tornando as amputações inúteis no momento em que poderiam ser realizadas. Lesões mais acima na perna têm um fluxo de hemolinfa muito mais lento, dando tempo suficiente para amputações oportunas e eficazes”, disse Frank.
Com amputações após uma lesão na parte superior da perna, a taxa de sobrevivência documentada foi de cerca de 90-95%, em comparação com cerca de 40% para lesões não assistidas. Para lesões na parte inferior da perna em que apenas a limpeza foi realizada, a taxa de sobrevivência foi de cerca de 75%, em comparação com cerca de 15% para lesões não assistidas.
O tratamento de feridas foi documentado em outras espécies de formigas que aplicam uma secreção glandular eficaz como antibiótico em companheiras de ninho feridas. Esta espécie não tem essa glândula.
As formigas, que têm seis pernas, ficam totalmente funcionais depois de perder uma.
Foram observadas formigas fêmeas fazendo esse comportamento.
“Todas as formigas operárias são fêmeas. Os machos desempenham apenas um papel menor nas colônias de formigas: acasalam uma vez com a rainha e depois morrem”, disse Frank.
Então por que as formigas fazem essas amputações?
“Essa é uma pergunta interessante e coloca em questão nossas definições atuais de empatia, pelo menos até certo ponto. Não acho que as formigas sejam o que chamaríamos de ‘compassivas'”, disse Frank.
“Há uma razão evolucionária muito simples para cuidar dos feridos. Isso economiza recursos. Se eu puder reabilitar um trabalhador com relativamente pouco esforço, que então se tornará novamente um membro ativo e produtivo da colônia, há um valor muito alto em fazer isso. Ao mesmo tempo, se um indivíduo estiver gravemente ferido, as formigas não cuidarão dele, mas o deixarão para trás para morrer”, acrescentou Frank.
Fonte: Agência Reuters/Will Dunham
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