Um sistema que pode traduzir a atividade do cérebro humano em ações sem qualquer movimento físico está sendo desenvolvido por uma empresa de neurotecnologia chamada Cogitat.
Ao usar um fone de ouvido protótipo, ações básicas em realidade virtual (em inglês VR) podem ser realizadas pensando nelas.
Por exemplo, em um jogo em que um jet ski VR (Virtual Reality) é controlado por alças, você se move pensando nisso, em vez de apertar as mãos.
A Neuralink, empresa de Elon Musk, está desenvolvendo um conceito semelhante. É chamada de interface cérebro-computador e há muitas empresas de neurotecnologia explorando-a.
Um dos objetivos é permitir que pessoas que sofreram um derrame ou tenham outras lesões cerebrais controlem remotamente telefones ou computadores.
Como funciona
O método da Neuralink requer que um chip seja colocado no próprio cérebro do paciente. Até agora, a empresa só trabalhou com animais e foi criticada por seu tratamento. Ela divulgou vídeos, que dizem demonstrar um macaco jogando o videogame Pong somente com sua mente, e a atividade cerebral de um porco com um chip implantado em seu cérebro.
Já a Cogitat é uma das empresas que desenvolve um sistema que funciona em cima da cabeça e não dentro dela. Pode um dia assumir a forma de uma faixa de cabeça usada com um headset VR. Algumas empresas já estão criando seu próprio hardware, mas, como um spin-off (derivação) universitário, a Cogitat está se concentrando apenas na tecnologia por trás dele.
A editora de tecnologia da BBC, Zoe Kleinman, experimenta um protótipo.
O projeto é liderado pelo consultor do NHS Allan Ponniah e pelo cientista da computação Dimitrios Adamos, do Imperial College London.
A tecnologia está em fase de desenvolvimento, mas já foi testada em pacientes com AVC, com resultados positivos. O objetivo é incentivá-los a continuar com os exercícios de reabilitação, tornando-os mais envolventes.
“Quando uma pessoa sofre um derrame e não consegue mover o braço, ela fica muito desmotivada para participar da reabilitação. Mas nossa tecnologia permitirá que ela imagine mover a mão ao ver uma mão se movendo na tela, o que nós acreditamos que irá motivá-los a iniciar o tratamento de fisioterapia”, disse Ponniah.
Experiência estranha
Segundo a editora de tecnologia da BBC, Zoe Kleinman, a experiência é muito diferente. “Eu tentei e é uma experiência muito estranha. Para começar, é mais difícil do que parece pensar em fazer um movimento sem realmente fazê-lo. E você também tem que tentar não pensar em outras coisas, o que aumenta sua atividade cerebral e cria mais ruído para o técnico decodificar enquanto procura o sinal do motor”.
Zoe conta mais sobre sua experiência. “Eu nunca tinha visto minha própria atividade cerebral apresentada em uma tela à minha frente em tempo real antes, como um cardiograma complicado de várias camadas. Isso era estranho por si só – ver a essência dos meus pensamentos em um gráfico. Mas quando você ouve o rugido do motor de jet ski VR, só porque você pensou em fazê-lo, é uma sensação incrível. É claro que o protótipo do dispositivo não estava lendo totalmente minha mente. Não estava traduzindo meus pensamentos ou olhando profundamente em minha alma. Foi focado apenas em sinais de habilidade motora”.
O ser humano está sempre no controle. “Se você não optar por interagir com o sistema, nada acontece. Não há nada retirado de você se você parar de usá-lo”, diz Adamo.
Outras empresas se concentram em diferentes tipos de atividade cerebral – sinais visuais, por exemplo, para que você possa se concentrar em um número e pressionar botões em uma tela. Também é possível – mas controverso – concentrar-se em respostas mais pessoais, como gostos e desgostos.
Pesquisas
A Cogitat diz que espera ter um protótipo funcional de sua tecnologia nos próximos 12 meses – mas ainda há vários desafios pela frente para a neurotecnologia.
A Cogitat está treinando sua tecnologia em um banco de dados de centenas de voluntários que a testaram, o que acelera o processo de calibração. “Alguns membros da equipe – principalmente alunos, estavam muito entusiasmados, para não mencionar os pacientes, enquanto me guiavam durante a demonstração. Adamos me contou, com orgulho, que, em uma recente competição global de aprendizado de máquina, a Cogitat não apenas ficou em primeiro lugar, mas também derrotou uma equipe do Exército dos EUA”.
Adamos ofereceu a todos uma folga para comemorar – mas ninguém aceitou. ““Eles estavam todos no dia seguinte. É realmente fascinante para nós e para todos que se juntaram a esta jornada”, comemora.
Fonte: BBC/Texto: Zoe Kleinman
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