Sem sombra de dúvida, a Pedra Azul, com seus 1 822 metros e dentro do parque estadual homônimo, é o grande cartão-postal da Serra Capixaba – não à toa, muitos conhecem a região por esse nome. Mas fica no distrito de Aracê, que pertence a Domingos Martins.
Ao perguntar o preço da diária dos hotéis de Aracê, a resposta invariavelmente é: com vista para a Pedra Azul, a diária custa tantos reais; sem vista, muito menos. A informação mostra o protagonismo desse monolito gigante cuja coloração muda conforme os raios solares.
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Predomina o azul, mas podem aparecer tons esverdeados e amarelados. De quebra, uma saliência no alto da pedra remete à escalada de um lagarto. Em volta dessa paisagem bucólica, há uma consistente rede hoteleira – pousadas românticas, hotelões para famílias, restaurantes transados e propriedades especializadas em produtos orgânicos.
Estrada de terra no Alto Caparaó. Foto: Bruno Magalhães/Wikimedia Commons
Para entender melhor, vamos retroceder 51 quilômetros, BR-262 abaixo. Lá fica Domingos Martins, a entrada da Serra Capixaba, uma simpática cidade colonizada por italianos, alemães e pomeranos. A Casa da Cultura, perto do Museu da Colonização Alemã, é uma espécie de première da região. Há peças de artesanato e um documentário sobre a chegada dos primeiros imigrantes. Ali perto, a Cervejaria Barba Ruiva serve ótimas cervejas artesanais – mas, vamos combinar, quem está dirigindo não pode beber.
Caminho das pedras
Passeio a cavalo na Fazenda Fjordland. Foto: Divulgação
E o que se pode fazer dentro do parque? Alcançar o topo é para escaladores feras, mas há duas trilhas abertas ao público. Até a base da pedra, chegar é moleza. O caminho tem 1,5 quilômetro (ida e volta) e pode ser feito por qualquer um. A outra trilha vai até as famosas piscinas naturais, exige condicionamento físico para encarar uma escalada de 100 metros com cordas e precisa ser feita com guia agendado. O visual compensa.
No final da Rota do Lagarto, 5 quilômetros depois da portaria do parque, o Quadrado de São Paulinho tem pousadas e locais para uma refeição leve. No Tuia, o chocolate quente é imperdível; na vizinha Marietta Delicatessen, resistir aos biscoitos é uma provação.
Agroturismo
Venda Nova do Imigrante tem trilhas por cafezais orgânicos. Foto: Tadeu Banconi/ Opção Brasil Imagens
Em Aracê, na estrada para Afonso Cláudio, há uma série de produtores rurais. Primeira parada: Apiário Florin, com loja recheada de produtos com mel. Um pouco mais adiante, o Sítio dos Palmitos vende sete tipos do produto em vários formatos: conservas, antepastos, massas secas, recheio de massas frescas e até fondue. Tem uma bancada para degustação, mas não há acesso à área de plantação.
Fechando o percurso, uma visita a um dos mais importantes produtores orgânicos do país: a Domaine Ile de France, que ocupa um terreno de 100 hectares em meio à Mata Atlântica. De lá sai um tour guiado que passa por todas as etapas de produção de vários itens – em uma hora e meia, caminha-se 2,5 quilômetros pela fazenda. Além da lojinha, há dois restaurantes, cujas receitas têm ingredientes orgânicos, claro, e uma pousada.
Venda Nova do Imigrante
Pousada do Nono, Venda Nova do Imigrante. Foto: Divulgação
Venda Nova do Imigrante foi colonizada por imigrantes do Veneto, uma italianada que apostou forte nos produtos rurais e colocou a cidade no mapa do agroturismo.
A maioria dos produtores se distribui pela Rodovia Pedro Cola, que segue em direção a Castelo. Praticamente a cada quilômetro aparece algum estabelecimento para te tentar.
Ainda na cidade ficam a Venda da Cláudia, especializada em artesanato de madeira, e a Tia Cila, com ótimos biscoitinhos feito no forno a lenha. Pioneira no agroturismo local, a Fazenda Carnielli produz laticínios, cafés e ótimos embutidos. Quase ali ao lado, fica a propriedade dos Busato, em que os visitantes conhecem o alambique, a produção de açúcar e provam a Teimosinha, a famosa cachaça da família.
Encerrando o tour por essa estrada, o trabalho da família Brioshi tem semelhança com o da Carnielli na produção de leite, café e embutidos – e lá dá para conhecer o curral.
Adrenalina
Vista do Parque Nacional do Caparaó. Foto: Leo Drumond/Nitro
BR-262 adiante, os programas mudam de perfil. O charme em torno da Pedra Azul e o agroturismo dão lugar ao turismo de aventura. Entram em cena as elevações do Caparaó, a mais alta cadeia de montanhas da região Sudeste, na divisa entre Espírito Santo e Minas Gerais.
O Parque Nacional do Caparaó tem portarias nos dois estados, a capixaba Pedra Menina e a mineira Alto Caparaó – ambas com acesso à estrela local: o Pico da Bandeira, terceiro mais alto do país, com 2,892 metros de altitude.
Pelo lado mineiro, a caminhada ao Bandeira percorre 14 quilômetros em trilha de sete horas (ida e volta). No lado capixaba, uma hora a menos para percorrer 9 quilômetros – é bem mais íngreme. Muitos sobem por um lado e descem pelo outro, combinando antes o traslado de volta.
Contratar guias não é obrigatório, mas é altamente recomendável pela segurança e experiência na área – as setas amarelas pintadas nas pedras às vezes são bem espaçadas e confundem os andarilhos.
Topo do Pico da Bandeira. Foto: Leo Drumond/Nitro
Quem encara o friozinho pode passar a noite nos campings/abrigos de montanha e iniciar a subida ao topo no meio da madrugada – para ver o dia nascer lá no alto do pico, com as nuvens lá embaixo.
Ainda dá tempo de curtir as quedas-d’água dentro do parque nacional. A Cachoeira Bonita, um paredão de 80 metros com ótimo poço de banho, fica do lado mineiro. No outro lado, o destaque é a Cachoeira da Farofa, com quatro cachoeiras e acesso fácil (o carro chega perto, e é preciso andar apenas uns 200 metros).
Depois de se aventurar caminhando pelas montanhas do Caparaó, vale relaxar num passeio de jipe. Há um monte de roteiros possíveis, inclusive voltando às quedas-d’água e mirantes do parque nacional ou explorando o entorno. As rotas mais procuradas seguem até a Cachoeira das Andorinhas e o Poço do Egito ou para conhecer a plantação de café da Fazenda Ninho da Águia.
Fonte: Abri Viagem e Turismo/Fernando Leite
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