Desde que as regras por conta da pandemia de Covid-19 foram flexibilizadas, Nadir Ribeiro Gomes já viajou para diversos cantos do país sozinha. Moradora de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, ela já desembarcou nos últimos meses em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo, apenas para listar alguns destinos.
E engana-se quem pensa que a idade é um fator que atrapalha suas andanças. Aos 71 anos, ela quer mais. “Tenho muita vontade de conhecer a África do Sul e de fazer cruzeiros. Tinha programado uma viagem para Cascais, em Portugal, antes da pandemia, mas tive de mudar os planos”, conta a aposentada.
“Tem muita gente que chega numa certa idade e acha que o mundo acabou. Que nada, agora que temos de aproveitar a vida, viajar para mim é saúde”, diz Nadir.
Viajar também é uma das paixões de Carmem Dolores, moradora de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Hoje viúva, ela trabalhou por 57 anos e descobriu a paixão por intercâmbios culturais que aliam passeios quando o marido ainda estava vivo. A primeira experiência foi em 2018 em Bournemouth, no sul da Inglaterra, quando ainda esticou a viagem para conhecer Liverpool.
Atualmente, a também aposentada acumula uma bagagem que inclui Playa del Carmen, no México, onde mergulhou nos cenotes e se aventurou nas ruínas maias, e Newcastle, na Inglaterra, viagem que teve parada de um dia na Escócia.
Aos 75 anos, Carmem ainda vai para Malta em setembro deste ano e planeja aterrissar em Toronto, no Canadá, em 2023.
“Tem pessoas que gostam de colecionar objetos, ou amam teatro e cinema. Eu gosto de viajar. Há até uma síndrome chamada de Síndrome de Wanderlust, que é uma obsessão por viajar”, cita Carmem.
Nadir e Carmem são exemplos da leva de viajantes que movimenta o turismo na terceira idade. Após se aposentar e juntar dinheiro, elas têm conhecido vários lugares e aproveitado diferentes oportunidades, seja a sós ou em grupo.
Ambas integram um filão da população brasileira que tende a aumentar nos próximos anos. Em 2060, um quarto da população deverá ter mais de 65 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 2021, dos cerca de 210 milhões de habitantes do país, 37,7 milhões possuíam 60 anos ou mais, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Novas amizades e incentivos
Além do amor por viagens, Nadir e Carmem também possuem outro traço em comum: as duas participam de um grupo público no Facebook sobre viagens na terceira idade.
Chamado de “Viagem Terceira Idade“, conta atualmente com mais de 66 mil integrantes e, como o nome anuncia, é composto por pessoas com mais de 60 anos que possuem interesse em viajar.
Criado há seis anos por Erica Roberta, funciona como um espaço aberto para compartilhamento de experiências e os usuários são bastante ativos.
“A maioria das pessoas quer fazer amizades. O principal objetivo é que as pessoas que estão aposentadas busquem amizades. Elas querem criar um vínculo para não viajarem sozinhas”, diz Erica, que continua como administradora da página.
Moradora de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, ela conta que o grupo tinha pouco mais de mil pessoas antes da pandemia. Após março de 2020, com as fronteiras fechadas e os idosos em casa, o número disparou: ela chegou a receber mais de mil solicitações para participar do grupo em poucos dias.
Entre os membros, 95% do número total é composto por mulheres. Ao rolar o feed, é fácil encontrar fotos e relatos de aposentadas e viúvas em viagens ao redor do mundo, além de diversos comentários sobre fazer novas amizades.
“Tenho muita vontade de conhecer outras culturas, amo muito. Em todos os lugares que vou também faço muitas amizades”, relata Nadir Gomes. Assim como ela, Carmem Dolores também é ativa na página e recorrentemente publica suas andanças pelos intercâmbios.
Nadir Gomes nas Cataratas do Iguaçu, onde chegou a enfrentar 3°C. Foto: Arquivo pessoal
Elas comentam em posts de colegas virtuais e, com as próprias publicações, têm por objetivo incentivar outras mulheres da mesma faixa etária a viajar.
“Publiquei meus intercâmbios justamente para incentivar as pessoas que têm medo de viajar sozinhas, que têm medo de andar de avião. Tem gente que possui uma condição financeira boa mas fica em casa”, menciona Carmem Dolores.
Essa classe de turista preza muito a segurança e busca agências especializadas que realizam viagens coletivas justamente por esta característica ser uma das principais no turismo na terceira idade.
“A grande maioria é o aposentado, que guardou um dinheiro e chegou num momento que quer aproveitar a vida. Eles viajam bastante e querem encontrar pessoas que estão na mesma sintonia. O próprio grupo é um dos pontos que procuram na hora de viajar”, relata Rodrigo Pastore, diretor da Pastore Turismo.
Hoje, as excursões são compostas majoritariamente por mulheres na faixa dos 50 aos 70 anos. “Muitas delas são viúvas. Muitos filhos até entram em contato para que a mãe ou pai viaje. Essa modalidade de grupo faz com que a terceira idade tenha mais contato com outras pessoas que estão vivendo talvez uma realidade semelhante”, explica Rodrigo Pastore.
Fonte: CNN Brasil
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