Nem o pôr do sol no Arpoador, nem o samba contagiante da Lapa. Para muitos turistas brasileiros, o Rio de Janeiro deixou de ser visto apenas como um cartão-postal de lazer e beleza e passou a carregar também a marca da insegurança. De acordo com um levantamento da plataforma DeÔnibus, 41% dos viajantes entrevistados afirmaram considerar o estado fluminense como o destino onde mais se sentem vulneráveis durante viagens.
A pesquisa ouviu 500 brasileiros de diferentes regiões e revelou que, além do Rio, São Paulo e Bahia também figuram entre os estados que mais geram preocupação aos viajantes.
Os principais motivos são violência urbana, golpes contra turistas e medo de deslocamentos noturnos ou em áreas isoladas. A sensação de vulnerabilidade tem sido tão intensa que quatro em cada dez brasileiros já deixaram de fazer passeios turísticos por receio.
Esse cenário contrasta com o esforço do setor turístico em recuperar o fôlego após os anos de pandemia. O Rio de Janeiro, que segue como um dos destinos mais procurados do país, enfrenta o desafio de equilibrar sua imagem internacional com a realidade percebida por quem circula pelas ruas da cidade.
Ainda assim, o turismo na capital fluminense não dá sinais de desaceleração. A previsão é de crescimento de até 8% em relação ao ano anterior, impulsionado por eventos internacionais, retomada de voos e campanhas de promoção turística. Mas para que esse avanço se sustente, a segurança precisa entrar definitivamente no roteiro.
Violência, furtos e golpes são os principais temores
Os dados da pesquisa da DeÔnibus revelam um retrato preocupante da experiência turística no Brasil. Além dos 41% que se sentem inseguros no Rio, 29% dos entrevistados afirmaram já ter sido vítimas de roubo ou furto durante viagens, enquanto 14% relataram ter caído em golpes. A insegurança não é apenas uma sensação —é uma realidade vivida por muitos.
Entre os “sustos” mais comuns estão hospedagens em áreas de risco (27%), assédio ou discriminação (15%) e o uso de dinheiro físico em locais movimentados (50%). A exposição de objetos de valor também aparece como um fator de risco, citado por 57% dos participantes.
Esses dados ajudam a explicar por que tantos turistas têm adotado medidas preventivas antes de viajar. A maioria (71%) afirma pesquisar bastante sobre o destino, enquanto 60% evita sair à noite ou sozinho. O envio de localização em tempo real para familiares e amigos também se tornou prática comum, especialmente entre mulheres, idosos e públicos mais vulneráveis.
A gerente de comunicação da DeÔnibus, Ana Luiza Mattar, reforça a importância do planejamento. “Colocar a segurança em primeiro lugar durante todas as etapas da viagem é essencial para garantir uma experiência tranquila e prazerosa”.
Turismo em alta, mas com desafios pela frente
Apesar da percepção de insegurança, o turismo no Rio de Janeiro segue em expansão. A cidade tem registrado aumento na ocupação hoteleira, na chegada de voos internacionais e na movimentação em pontos turísticos.
Entre janeiro e julho de 2025, o estado recebeu 1.324.515 visitantes estrangeiros, um crescimento de 52,5% em relação ao mesmo período do ano passado. A expectativa é que o setor cresça cerca de 8% em 2025, em comparação com o ano anterior, segundo dados da Secretaria de Turismo do Estado.
Esse crescimento é influenciado por diversos fatores, como a realização de grandes eventos — incluindo festivais de música, competições esportivas e congressos —além da retomada de cruzeiros e da ampliação de rotas aéreas. O Rio de Janeiro também tem investido em campanhas de marketing voltadas ao público nacional e internacional, com foco em experiências culturais e gastronômicas.
No entanto, especialistas alertam que o avanço do turismo precisa vir acompanhado de melhorias estruturais, especialmente em segurança pública. A imagem do Rio como destino turístico depende não apenas de suas belezas naturais, mas da capacidade de oferecer tranquilidade aos visitantes.
Investimentos em segurança e infraestrutura
Para enfrentar o problema da insegurança turística, o governo do estado e a prefeitura do Rio têm anunciado uma série de investimentos. Estão previstos cerca de R$ 300 milhões em ações voltadas à segurança pública e infraestrutura turística até 2026. Entre as medidas estão o reforço do policiamento em áreas turísticas, instalação de câmeras de vigilância, iluminação pública e capacitação de profissionais do setor.
Além disso, há planos para revitalizar pontos turísticos menos explorados, descentralizando o fluxo de visitantes e reduzindo a concentração em áreas de maior risco. A parceria com empresas de transporte e hospedagem também busca garantir mais transparência e segurança na experiência do turista.
No setor rodoviário, por exemplo, a DeÔnibus identificou que, embora a maioria dos viajantes se sinta segura nas rodoviárias, 25% ainda apontam necessidade de melhorias. As principais demandas incluem mais profissionais de segurança (68%), melhor iluminação (63%) e aumento da vigilância em áreas estratégicas (64%).
Essas iniciativas são vistas como fundamentais para reverter a percepção negativa e consolidar o Rio como um destino seguro e acolhedor. Afinal, a segurança não é apenas uma questão de proteção —é parte essencial da experiência turística.
Fonte: Catraca Livre Viagem/Márcio Diniz
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